Uma tentativa hedionda e quiçá mesmo mesquinha de querer racionalizar a existência, a própria e a alheia. Matematizar a o choro, quantificar a saudade, medir o tédio.
Sente-se o choro, caem-nos a saudade e fere-nos o tédio.
Tudo é sonho, a própria existência é um sonho meramente pensado e sentido em extase, em sulcos espaciais.
Se pensarmos na realidade da vida, no estar sempre a um passo do desejo, avançamos 3 passos e aquilo que queremos e desejamos intrinsecamente afasta-se barafustando perenemente em voz alheia.
Se pensarmos na inevitalidade da morte, sentimos que a edificação da nossa alma, a essência que muitos outros evocam em vão, em palavras ocas de realidade, atinge o pasmo de se ver despida de peso, nua possante em vão.
As dos outros são olhares,
são gestos, são palavras,
com a suposição
de qualquer semelhança
no fundo. de Fernando Pessoa
Ter alma é muito mais. Ter alma não é saber quem somos, pois isso nada é senão um sonho irrefutável da mente humana.
Ter alma é ser mais alto que a vida e maior que a morte.
Ter alma é puder dizer o que se sente.
Ter alma é puder ser a existência.
Ter alma é ser mais Deus que a maioria dos Homens.
Ter alma é ser imortal e mesmo assim morrer eternamente sem nunca fechar os olhos à existência.
Terás alma?
Para existir basta que alguém nos chame.
Mas pelo simples chamar não passamos a existir.
Quem sabe se a nossa alma está no olhar fosco do ser que nos olha de frente... Ou se simplesmente reside num canto escondido de um sulco cerebral.
Terás Alma ou simplesmente existes?
"Resiste a uma tentação e tua alma adoecerá de desejo pelo que lhe foi vedado." (Oscar WIlde)
Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. (Fernando Pessoa)