Há uma luz que se apaga na noite, as janelas revestem se de pequenos sois amarelos e brancos, intercalados por silêncios, ausências, como em tudo, uma mescla de cheio e vazio num absurdo convívio ensurcedor. Pessoas a pé circundam os carros já parados nos seus repousos, os vazios deixam de existir mas nem por isso se enchem, apenas passam a noite com a companhia inútil de quem parte pela manhã. Um deles imunda ainda calor, o rasto de quem foi usado e já não mais, apenas se queda ali no silencio com os outros, ninguém fala nesta rua, ninguém se conhece nesta estrada, somos todos companheiros da nossa viagem.
Pelo fim da rua, envolto em fumo, reside um resto de homem, um cansaço com pernas que se arrastam no alcatrão com a forca resistente das magoas, o arrastar de ferro pelas teias ferrugentas do tempo, lascando com faíscas negras as faixas obscuras da humanidade. Acende se um isqueiro. Não há mais caos neste edifício que anda.
Outro cigarro se enche e outra madrugada se acende. Nenhum deles percebe o que mais ninguém reconhece, a solidão dos homens, o silencio dos fracos.
Aqui diz-se quando ninguém deixa. Aqui manda-se vir sem os gajos ricos deixarem. Aqui fala-se... E fala-se... Por ser isso que nos mantém vivos
Balelas (ou não) da Rua
Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra
sábado, 16 de novembro de 2013
Cidade
Quando a cidade me despenteia, largando as roupas pela madrugada, tecendo corpos pelo Temo e deixando pela calçada pequenos rastos de alma, perco me em todo o teu sentido. Ainda não te sei manhã...
Quando a cidade me despenteia, a madrugada me abraça e o corpo larga pela calçada
Pequenos traços de magoa, pequenos restos de lagrimas,
Não ficam desejos, nem se deixam sentidos, somos de onde estamos.
Em Lisboa não morro mas espero,
Até a cidade me despentear,
Até a tua mão me deixar.
Quando a cidade me despenteia, a madrugada me abraça e o corpo larga pela calçada
Pequenos traços de magoa, pequenos restos de lagrimas,
Não ficam desejos, nem se deixam sentidos, somos de onde estamos.
Em Lisboa não morro mas espero,
Até a cidade me despentear,
Até a tua mão me deixar.
domingo, 10 de novembro de 2013
Quebramos os Dois
Sou eu a ficar porque não sei partir e tu a ficares ao saberes partir, indo devagar para a distância imprecisa, não somos mais as crianças de ontem, eu a convencer que gostas e tu a dizer que não, tu a dançar pelas ruas de alegria e eu a esconder os olhos numa palma suada de medo, eu a afirmar que não se diz e tu a gritares a plenos pulmões que as palavras são dos homens e eles os donos dos seus ouvidos.
Quebramos os dois.
Eu desviava os olhos para não sentir a verdade, tu calavas na palavra a mentira, eu fugia do toque ao saber que me despia, tu a aproximares sabendo que a roupa na pele não é nada, o desejo é maior que as roupas, tu vinhas de manhã e eu queria a noite, tu sorrias e eu sonhava, em todos os dias, em todos os lugares...
Eu tirava-te os sonhos e tu criavas realidades, eu contava histórias e tu atavas cada uma, rezava para que ficasses, tu rezavas para que desaparecesses e ficavas enquanto saías, e quando partias não te tocava, não ficavas, só ias e contigo foi tanto.
Afinal, quebramos os dois, como crianças perdidas num choro compulsivo, é pecado que se deixe, é pecado não deixar,
Quebramos os dois afinal.
Quebramos os dois.
Eu desviava os olhos para não sentir a verdade, tu calavas na palavra a mentira, eu fugia do toque ao saber que me despia, tu a aproximares sabendo que a roupa na pele não é nada, o desejo é maior que as roupas, tu vinhas de manhã e eu queria a noite, tu sorrias e eu sonhava, em todos os dias, em todos os lugares...
Eu tirava-te os sonhos e tu criavas realidades, eu contava histórias e tu atavas cada uma, rezava para que ficasses, tu rezavas para que desaparecesses e ficavas enquanto saías, e quando partias não te tocava, não ficavas, só ias e contigo foi tanto.
Afinal, quebramos os dois, como crianças perdidas num choro compulsivo, é pecado que se deixe, é pecado não deixar,
Quebramos os dois afinal.
Depois do silêncio A madrugada
Depois do silêncio, o vazio, o inócuo profânico sentimento de voltarmos ao início, onde tudo começou, que tudo?, não faço a mínima ideias racional de que nome dar a isto, onde se encaixará no campo dos conceitos. Que sentimento inútil cabe ali, que palavra oca encaixa melhor, se adapta aos contornos obtusos disto... Porque raio existem palavras?, elas são aquilo que nós queremos que elas sejam. Se eu quiser, no alto cume da ignorância dos loucos, apelidar madrugada como o silêncio espelhado na ausência, a solidão inerente à ausência dos outros, estarei errado? Sou o meu dicionário senhores... Não me baseio em obras de outros, a minha bibliografia é o mundo inteiro e dele as sensações subjectivas apreendidas por mim, apenas isso, não é tanto?
O que faz este silêncio? Sede. Sede. Sede. Demasiada sede para a água que existe no mundo, um extremar de sensações plácidas que não se revêm na realidade dos homens, um querer altivo demasiado grande para sobreviver aos dias, um olhar demasiado perdido para te ver, estar morto ao querer viver tudo um pouco, não podemos, não devemos ter demasiada sede ou arriscamos perder-nos nos desertos da vida em busca de oásis que nem existem em sonhos.
Nada aqui faz barulho agora, não reside a mínima sensação de despertar, nem o som de um piano, nem um cheiro leve, nem mesmo o bater das ondas nas rochas altas da manhã me faz prender aqui. só no silêncio longínquo da madrugada poderei deixar a sede da humanidade. Aqui faz-se silêncio e eu tenho demasiado desejo da cidade para aqui ficar.
Irei perder-me até perder em mim a sede que não passa, encontrar um fogo calmo, sustentado, que me embrace na madrugada e me arranque dela aos pedaços corpóreos das sensações sonhadas.
Depois do silêncio a madrugada, talvez um dia me torne manhã!
O que faz este silêncio? Sede. Sede. Sede. Demasiada sede para a água que existe no mundo, um extremar de sensações plácidas que não se revêm na realidade dos homens, um querer altivo demasiado grande para sobreviver aos dias, um olhar demasiado perdido para te ver, estar morto ao querer viver tudo um pouco, não podemos, não devemos ter demasiada sede ou arriscamos perder-nos nos desertos da vida em busca de oásis que nem existem em sonhos.
Nada aqui faz barulho agora, não reside a mínima sensação de despertar, nem o som de um piano, nem um cheiro leve, nem mesmo o bater das ondas nas rochas altas da manhã me faz prender aqui. só no silêncio longínquo da madrugada poderei deixar a sede da humanidade. Aqui faz-se silêncio e eu tenho demasiado desejo da cidade para aqui ficar.
Irei perder-me até perder em mim a sede que não passa, encontrar um fogo calmo, sustentado, que me embrace na madrugada e me arranque dela aos pedaços corpóreos das sensações sonhadas.
Depois do silêncio a madrugada, talvez um dia me torne manhã!
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