Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

TeMpO


Ambos se cruzaram, os dela de tão límpidos que emanavam pureza por todas as que suam nos oceanos, os dele que suspiravam cansaços de já não querer mais querer. Sentaram-se sem palavras, o silêncio dizia tudo, nada dizia tanto como o silêncio, empleno bairro, à beira do oceano inteiro, pelos rochedos do mundo e os pastos da terra, aqueles olhos olhavam-se de magia e quedavam-se por um instante de horas fixados na mórbida ideia de nunca se puderem fundir, não era demais, não era demasiado pouco, nada é pouco a não ser que não quereamos e tão pouco pode ser demais se não o desejarmos, a vida são proporções.

O tempo olhava-os de ralance através do seu manto negro de memória, o esquecimento de não nos lembrarmos de ser o futuro, o que somos é isto mesmo, se é real, se o criamos, se é falso, se é verdadeiro, é nosso e foi isso que fomos e será o que erguerá de novo a ruína dos heróicos passados.

Não sombra, não mais, somos paridos pelo bafo dos heróicos passados e esquecemos que sem nós o passado morre, o Tempo olha-nos uma última vez pelos seus olhos pretos de completa paixão por si mesmo, Mostrem-se mortais, e eles quedaram-se uma última vez à instância de 2 toques, e o Tempo parou porque o futuro era deles e nele o Tempo é eterno.

Se souberes manter o tempo vivo para sempre, matando agora as nesgas que lhe sobram, vais ser mais, vais ser melhor, serás Rei, serás Rainha dos reinos de aquém e além dor, se for demais....

Quem sabe, o tempo tem apenas o tempo que nós queremos que o tempo tenha

Realidade


Em entrevista, um psicanalista analisa cuidadosamente as nesgas irreiais emanadas pelo prenuncio de paciente que deslizava pelo sofá, num gesto de repúdio para com a propria inteligencia, uma abdicação incorporea dos prazeres mudanos da auto-comiseraçao, e o psicanalista pergunta, Como se Sente?, esta pergunta tão simples, tão mundana e tão banal, preenche-se em respostas múltiplas, logo não certas, logo não completas, logo não respostas.
Sinto-me irreal por tão real que não sou, vejo a baixa pelos olhos de quem lá dorme ou de quem lá já morreu, sinto cada pedra no meu corpo, cada laço na minha alma, cada desprezo e cada olhar trocado passam-me pelos nós das veias e inundam-me o sangue de veneno, todos nos olham e ninguém nos vê, afinal a realidade deve ser isso, a primeira ilusão, a única ilusão que os olhos verdadeiramente captam e que o cérebro pretende ocultar-nos, desprendendo-nos desta complicação completamente irracional de descobrir o racional da realidade, somos, portanto e óbvia dedução, nada, ou tudo, depende do ponto d evista, somos a realidade mas como a realidade é a ilusão primária, ao não assegurarmos que a realidade possa existir e caso exista seja o que apreendemos com os nossos olhos, somos a ilusão de nós mesmos e o que vimos nada é mais do que a ilusao que os nossos olhos criam quando se espelham, as pessoas são reflexos nossos, projecções ilusórias, não me sinto porque não mo sou, a ilusão que comporto prenúncia nas suas palavras uma tentativa de aceder ao meu mais profundo tédio, mas como você é ilusão e eu ilusão sou, a realidade que presenciamos é apenas o sonho de algo superior.

Silêncio.

Vazio.

Calma.

Num experante grito de dor, o psicanalista acorda de um sonho, passeia-se pela secretária, abre as janelas, vê o sofá e salta pela janela.

Dois sons se ouvem, ninguém cai, o escritório está vazio.

A realidade é a ilusão dos sóbrios, os sonhos são a ilusão dos poetas e a ilusão é a realidade que construimos.

Somos o que somos e essa é a única realidade do mundo.