Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Todo o mundo é assim

As coisas transformam-se, a chuva cai e aprende a parar, o sol nasce e deixa-se morrer, tudo se muda em mim, tudo se transforma por colapso rápido, por mudança súbdita como um sopro no ar, um nome a chamar, de longe, um abraço e um até mais, o horizonte vai longe e tudo o que o olho alcançar se deixa partir com ele, invadindo a terra do ninguém, sem ninguém notas, palavras e vozes, sinais e gestos, tudo é grande demais,

Todo o mundo é assim, tudo se fecha num fim.
Num horizonte longe, numa palavra surda.

Lá fora

Nos olhos fundos guarda a dor toda do mundo, o sal todo do oceano, um canto triste e sozinho, uma voz trémula de quem tem mãos gastas, Lá fora amor nasce, nos dedos uma ferida tépida, de passagem pela madeira ressequida do tempo, Eu mostrei sorrindo, a face sóbria como quem passa, o tecido verde como quem espante, Olhos tristes, guarda tudo no regaço e deixa tudo no seu espaço, num pequeno banco do quarto se senta e aceita mil versos do vento, mil distâncias do universo, Lá fora amor as rosas morrem, e a festa acabou aqui, o barco partiu comigo, o meu porto será sempre aqui, O tempo passou na janela, só não viu o tempo ficar. E com tudo, E com isto, se fica sempre na meia distância do tempo, na meia palavra da vontade, E a dor toda do mundo fica sempre, Não vai dar, E a dor não fica, Lá fora, Cá fora, Nasce de dentro a estrela que te cai nos olhos e ilumina, te desce na boca e fica, te mata na alma e cresce.
Se for isto o que chamam, é isto que fica, nenhuma palavra existe como o mundo não chega para agora explicar. Lá fora, nasce!