Como dizia uma criada que mal sabia ler, o meu momento é o presente, vou para a cama estou doente. Estou longe dela, de tudo, junto do silêncio e deste nuvem de fumo que começa a embaciar as janelas do carro, já ninguém me vê lá dentro.
Tira tudo, perde-te, não sei ler também, deixei na cidade o que me põe doente.
Não há ninguém aqui. Ninguém aqui fica, tudo o que vem passa porque eu não aprendi a fechar portas, só a abrir fechas por onde usurpa o espaço, Não te quero. Quero-te. Não sei que mais querer senão uma beata de cigarro a escorrer me no braço, queimando lentamente o seu caminho até numa volúpia escarlate desafiar a gravidade a pequenos soluços e atravessar um chão que não se deixa trespassar.
Um bafo mais quente e uns faróis que passam, nem a luz aqui se deixa prender.
Não há espaço nos bancos para que cries margens, nem tempo para te deixares ir. Vivo do que me dão, até não viver mais e ter que procurar ódio nos olhos de outro alguém.
Saio dele, o vento bate frio, o cigarro ressente-se e a alma apaga-se, os pequenos toques no vento ao passo ritmado da dança do casaco lembram-me de ti, um dos 'ti' que por aqui passou, não estás, eu não quero, eu quero. Deixas-te passar como este vento também passa, como as ervas também voam e como os pássaros se vão esconder nos recônditos caminhos de deus. Viver do que nos dão é tão menos do que viver com o que se quer.
Acende-se o último e já não sei ler, a porta ficou aberta e eu persigo a chapa das restantes, queimando a mão no frio ardente que ali vivia, ou apenas passava, chego ao fim dele e continuo, Olho de relance para trás, vejo, no vidro pálido vejo, na chapa iluminada pela brisa, vejo, no pequeno traço espelhado da marca, vejo, e só me vejo a mim,
Continuo, uma lágrima caí e mais um bafo se enche, o corpo contorce-se mas não para, a alma dói mas não se vai, todo os meus olhos se fixam naquela imagem e no fumo que agora a cobre,
Porque me traíste tanto?
e eu não consegui responder