Cai neve neste verão.
Nao estou na minha rua, muito menos no pais que me viu abrir os olhos, as viagens trazem para nos a saudade que nao sabíamos que existia. Nova Iorque enche me de saudosismo, falta nestas ruas rectilíneas e prédios beija-céu o ar tosco e latino que fechei em Lisboa, pelo menos naquilo que me sobra na memória. Fechei uma porta e deus nao me abriu já ela nenhuma e fez questão de desligar as luzes.
O sobretudo pesa, sacudo a neve e ponho as mãos nos bolsos, nao me segue ninguém embora saiba que a manada de gente que me circunda me olha com desprezo, sente no ar um leve toque Atlântico que aqui nao subsiste. Faz me falta Lisboa e tudo o que com ela vem, os gritos nas ruas, as crianças a saltar, a calcada a calcar as solas dos sapatos, onde muitas vezes um leve deslize servia de motivo para te agarrar no braço e com ar inocente disse, Desculpa escorreguei, sabias tanto como eu que senão fosse o acaso da vontade, teria escorregado de propósito.
Depois de um whisky num pequeno bar escondido num beco potrido, sigo ao hotel. Não há sono esta noite, não vejo estrelas para me entreter. Apenas um vazio, escuro, só, e comigo estava o céu cheio de nada e eu de nada cheio.