Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Rendição

Somos secos por dentro meus caros, não subsiste um único regozijo nutrido na alma, uma lenta circunflexão dos hemisférios do tempo, uma perdição luxuosa dos anos de deixar ficar o que sempre partiu, ficamos presos às circunstâncias e ao que com elas nos da um medo, um prazer, de ficar a meia distância das distâncias dos outros.
Com isto não notamos mas perdemos um pouco de nós ao estarmos sós sonoro, a tal secura, um fingimento do fim em si mesmo, uma bebida não alcoólica que mesmo assim nos revira os olhos e nos transtorna a realidade, só levar, só deixar, perder nos outros o medo de os ter e não os tendo não ter medo nenhum.
Até ao dia em que, contra o expetável da razão e as noções dos corpos, deixamos quebrar, como naqueles dias de vento forte onde por uma pequena mas bruxuleante brecha na porta, se escancaram todas as janelas, e todos os ventos do mundo se transformam em todo o ar que respiramos, fundo, único, potente. Já não somos de nós mesmos, rendemo nos de corpo e alma, razão e tudo o resto a algo que não nós mesmos. Sabido está que a duração de tudo é menor do que o que tiramos dele, contudo. Sempre, rendemo nos felizes à tristeza de não sermos apenas nossos.