Somos secos por dentro meus caros, não subsiste um único regozijo nutrido na alma, uma lenta circunflexão dos hemisférios do tempo, uma perdição luxuosa dos anos de deixar ficar o que sempre partiu, ficamos presos às circunstâncias e ao que com elas nos da um medo, um prazer, de ficar a meia distância das distâncias dos outros.
Com isto não notamos mas perdemos um pouco de nós ao estarmos sós sonoro, a tal secura, um fingimento do fim em si mesmo, uma bebida não alcoólica que mesmo assim nos revira os olhos e nos transtorna a realidade, só levar, só deixar, perder nos outros o medo de os ter e não os tendo não ter medo nenhum.
Até ao dia em que, contra o expetável da razão e as noções dos corpos, deixamos quebrar, como naqueles dias de vento forte onde por uma pequena mas bruxuleante brecha na porta, se escancaram todas as janelas, e todos os ventos do mundo se transformam em todo o ar que respiramos, fundo, único, potente. Já não somos de nós mesmos, rendemo nos de corpo e alma, razão e tudo o resto a algo que não nós mesmos. Sabido está que a duração de tudo é menor do que o que tiramos dele, contudo. Sempre, rendemo nos felizes à tristeza de não sermos apenas nossos.