Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Cavalo à Solta


A amargura de um sôfrego de um beijo no rosto amargurado da esperança, que já não a vemos mais, um simbil rasto de fumo branco nos resta na imensidão só da nossa dor, um vácuo de frio que nos aquece até nos juntarmos, não, a junção de dois corpos não é a fusão das almas, a vida é mais que um não claro à boca da morte, o tempo é mais que a ausência de nós, diz que sim, diz que não mas diz, a tua palavra é a chave de todos os muros e de todas as portas, por isso grita, diz a toda a gente o que entrou em jogo, diz ao mundo que jamais ousou ser quadrado a vontades mil, grita que a alma é fogo e o tempo é quente, e nós somos labaredas do destino, vazio, cheio, corrido e parado, dizer que sim, dizer que não, mas nunca parados, despedidas e cumprimentos, sortes e azares mas mais sempre mais, querer mais, querer pulsar os sonhos pelos jogos de ansiedades, jogar a última carta na primeira jogada, senão é tarde e tão tarde que nem o tempo é tempo e a morte já é sinal de vida, o que dizemos e o que sentimos são esfuziantes gritos da saudade que nunca nos deixamos ter, porque afinal nunca somos nós, nunca existimos além das linhas, além dos tempos, além das miragens de todos os desertos, mas fomos mais que um dia todos serão, fomos a atarde de todos os dias fomos a loucura de todas as manhas, fomos o sol de todas as luas, fomos tudo e tudo fui tão pouco,

A alma não toca a beleza do ser, extravasa-o

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Fernando Pessoa


Faz hoje 76 anos que o Grande Mestre deixou de vez os seus disicpulos, faz hoje 76 anos que Ricardo Reis ficou cambaleando pelo curto cordel que nos separa da vida.

Há quem morre e quem seja eterno e a lembrança é o rasto da eternidade.

Tanto pode ser dito e sempre ficaria incompleto. Deixo apenas um pequeno texto de Pessoa que vi há poucos dias e que nos deixa a pensar. E pensar dói tanto...

Um dia a maioria de nós irá separar-se. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos. Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido. Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida. Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos. Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Até que os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro. Vamo-nos perder no tempo.... Um dia os nossos filhos vão ver as nossas fotografias e perguntarão: "Quem são aquelas pessoas?" Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto! " Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!" A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...... Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo. E, entre lágrimas abraçar-nos-emos. Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes desde aquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado. E perder-nos-emos no tempo..... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida te passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades.... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"



Winston Churchill


Nasceu neste dia, no ano de 1874, o por duas vezes Primeiro-Ministro de Inglaterra e o prémio Nobel da Literatura, Winston Churchill.
Atravessou a segunda guerra mundial e morreu a 24 de janeiro de 1965.

Uma inspiração para muitos...

"A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes.

Os homens tropeçam por vezes na verdade, mas a maior parte torna a levantar-se e continua depressa o seu caminho, como se nada tivesse acontecido.

A desvantagem do capitalismo é a desigual distribuição das riquezas; a vantagem do socialismo é a igual distribuição das misérias.

Estou sempre disposto a aprender, mas nem sempre gosto que me ensinem.

Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir.

Não


Não, recusa o tempo que o tempo perdeu paciência.
Não, sê eternamente eterna na eternidade.
Não, dá cores ao arco-iris que ele poucas coras tem
Não, cria o mar de ondas de fogo, brotando lágrimas de labaredas em campos de lírios.
Não, um muro é tão forte como uma porta fechada.

Não, a palavra da recusa da entrega de almas ao purgatório.

Não, a palavra sábia que recusa a inteligência.

Não, a ode de todos os que se querem.

Ne Me Quitte Pas


Não me vás deixar
importa esquecer
trata de esquecer
o que há-de passar
esquecer o tempo
dos mal-entendidos
e o tempo perdido
em busca do vento
esquecer de vez
o que sem parar
nos tenta matar
com tantos porquês
Não me vás deixar

Por mim te darei
pérolas de chuva
dum país sem chuva
que nem água tem
deixarei tesouros
depois de morrer
para tudo te encher
de luzes e de ouro
um reino farei
onde a murmurar
de sempre te amar
só tu serás rei
Não me vás deixar

Não me vás deixar
inventar-te-ei
palavras que nem
se podem escutar
e falar-te-ei
de quem por amor
destrói o terror
de todas as leis
e a história de um rei
morto de pesar
por não me encontrar
também encontrei
Não me vás deixar

Já mesmo se viu
do fundo de um mar
que nunca existiu
o fogo brotar
acontece enfim
um campo queimado
dá um perigo mais grave
que o melhor Abril
e ao cair da tarde
vão-se misturar
sob o céu que arde
tantas cores aos pares
Não me vás deixar

Não me vás deixar
nada te direi
nem chorar já sei
vou ali ficar
dali te verei
dançar e sorrir
e escutar-te-ei
a cantar e a rir
até me sentir
sombra de uma sombra
que há na tua mão
sombra do teu cão
Não me vás deixar
Não me vás deixar
Não me vás deixar
Não me vás deixar

David Mourão Ferreira