Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

domingo, 3 de julho de 2016

Ido

Volta a noite com todas as estrelas, de todo o fogo que sai das tuas palavras eu deito o meu corpo sobre a chama incessante, finjo dormir, sei no entanto que me vês... tenho que me deitar... mas se eu quiser mesmo ir, se eu desejar tanto, só eu me culpo da distância, só de mim se separa o tempo.

Se for verdade o que as pessoas diz, que a escuridão aparece antes da luz, tenho que me deitar, se formos demasiado fracos para continuar, tenho que me deitar e deixar cair, perdendo tudo na queda, sentindo o vento nas costas, a cabeça a pesar, os braços a quebrar, e o universo inteiro a sugar-me para um novo espaço.

Se quiser mesmo o outro lado do ontem, basta ir e voltar de novo, basta fazer e deixar queimar, basta de bastar, para pior ou melhor... Porque do outro lado do ontem, para lá do esquecimento e da dor, do vazio e da névoa... deixo me cair...



Se quisermos mudar a página, apagamos o adeus e escrevemos de novo o que nunca conseguimos começar.

Vidro ou o Holismo de coisa nenhuma

Os copos partem-se sabias? Basta um tilintar mais sedento de gravidade e tudo por dentro se corrói, vibrando as pequenas partículas atómicas que constituem o chamado todo (se é que existe algum todo em parte alguma). A verdade é que nunca há um vencedor quando um copo se parte, das mãos de uma criança inocente, de um grito alto de pânico, de um pequeno soluço de raiva, a inocência segue o movimento atómico a atravessa-se com ele pelo infinito, até não o haver jamais.

Eu não sei, logo não me pode magoar. Era tão bom que fosse verdade e não o é, não consigo deixar cair o copo e vê-lo quebrar, perder o jogo de propósito, fazer o sentido inteiro e deixá-lo cair, ver com um sorriso sádico ou um olhar inanimado o desmantelamento dos átomos, indo um a um no seu caminho distante, nunca mais se juntando.

Mesmo que um dia o copo se cole, os átomos nunca, as ligações intrínsecas da ciência não permitem que os atómos se voltem a encontrar na vida, mesmo que juntos, estão condenados a viver separados.

Seremos algum dia mais do que a soma das partes?
Porque um dia que me consigas colar acho que não mais voltarei a partir...