Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Risco

É aceitar o risco.
Tudo na vida tem duas medidas, dois sentidos, duas formas analogamente opostas que se transitam em sentidos distintos, e tudo é mensurável mesmo que sem medidas. Entre o ir e o voltar, entre o aqui e o ali, há o espaço insensato do tempo, o intervalo da distância e o medo da rendição.
Depois rendemo-nos, deixamos, para viver de novo, para ir mais longe. Para esta viagem há que não levar bagagem, há que deixar a roupa noutro corpo, a mala no seu lugar, e ir, simplesmente nu de tudo, sem qualquer rasto de civilização e render o corpo e a alma ao tempo, deixar ir com ele tudo, apostar numa só casa, voar tudo numa só vez, para chegar aí.

É aceitar o risco.´
É saber que a casa pode cair, que os braços se podem perder, que o voou pode ser curto e a estrada perdida, ter na memória o instante do mundo, o receio do eterno, o medo na sua inconstância sádica e mesmo assim render-se por completo.

É aceitar o risco.
De juntar mil sonhos num só e todos os passos num caminho.