Já te perguntaste se és feliz, disse-me despretensiosamente, como se, sem interesse algum, me atira-se uma bomba de fumo, armada, explodida, dentro do meu próprio corpo que se perde no impacto, sem cair, sem explodir, imploding e absorvendo, Que pergunta, não se o consegue ser, decidi dizer sem qualquer desdém por mim próprio, sem ligar a toda a energia cinética que me enchia as veias de medo, Ser feliz é algo que não existe, está-se feliz, existem momentos felizes, acrescentei.
Sem um segundo de pausa recebo em mãos, Tu não és feliz só por dizer isso, não te deixas ser feliz, tens medo de o puder ser, parei no tempo, ou ele parou em mim não me apercebi da tonalidade desta passagem de tão rápida que foi.
Eu já fui meu, isto não é simples de explicar, mas ao me ver ao espelho sinto-me longe de mim, vejo um ser distante, um reflexo do nada que já fui, um caco ainda construído, embora me lembre sei que a perfeição não está ali, está um ser só, um tudo misto de confusão que se perdeu no tempo nos rasgos de cobardia que com ele vieram.
Algumas vezes a vida passa-nos pela porta das traseiras, não a vemos, deixamos passar, digo ao espelho, Não és o que espero, e peço a mim uma chance de começar de novo, de apagar as últimas estradas onde passei, e voltar a estar só no ponto de partida, sem medo da vida que me preenche, sem medo de construir no escuro, sem medo de mim próprio.
Voltei a olhar para as palavras que recebi, Já fui de mim, não o sou.
Perdido voltei ao espelho, pode ser que me encontre em mim.