Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Off

Faz sol, não como daqueles de verão que nos enchem o corpo de forças, regenerando a alma de novas formas de ver, conseguindo levar coragem para novos dias, o sol daqui é frio, desagradável, ilusórios, dá-nos uma certa expectativa de iluminação interna, de um abraço reconfortante perante a adversidade, e nós vamos, iludidos com erradas expectativas. Está frio, lá fora e cá dentro. Ausência.
Poda dizer que parti, para novos lugares sem nome, numa vila sem pessoas e numa casa sem paredes, nova morada no mundo, minha, solitária, sem flores, com mar, uma nova madrugada quente. Mas não.
Podia pedir-te para não ires, ficares, ser injusto para com o mundo, num egoísmo que nem me é de direito, os nossos caminhos afastam-se e cruzam-se, esperando sempre voltar a ter-te um dia mais tarde, um segundo mais cedo.
Ir e vir. Partir e voltar. Sonhar e viver. Há rios demais no mesmo chão. 

Até lá silêncio, a liberdade é minha e amanhã será um novo dia,
Hoje, fecho as janelas, junto o meu café e espero,
embalo-me na música que não oiço, nos lugares que não vi,
Não hoje não estou. parti para lugares que não existem.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Há, Existe!

Há palavras que nos tocam, não pela extensão do seu parafraseado mas pela imensidão do seu sentido.
Há gestos que nos fazem amar, não pela complexidade do seu saber mas pela simplicidade da sua forma.
Há pessoas que guardamos não pelos tempos que passaram, mas por haver sempre tempos por passar.

Ecce Homo

Há urgência nas palavras e sede nos silêncios, há uma torrente forte no tempo que nos joga para as despedidas mais fortes, as ausências mais tristes, há formas obtusas no silêncio e contornos imprecisos na tua boca que me trazem para perto, há verdade no teu sangue e sentimento no teu corpo. À que dizer sim, em cada despedida, no ultimo olhar, aquele toque repentino de dizer a toda a gente o que somos, somos maré negra nos oceanos, pássaro livre nos alteres e jogo sujo sem pecado.
Já não. Fica no tempo o que não criamos na mente, doendo por dentro e passando pelos braços, no vento, em contratempo na ausência, pelos dias e pelas noites, por cada ciúme e em cada hora, perguntamos ao tempo presente que agora ficou de ontem, que somos se inventássemos outro tempo...

Há nas formas um segredo que é teu, um desejo humano pelo igual, uma eterna conquista ao viver cada madrugada um pouco mais doce, um pouco menos alcoólica, onde o corpo se apaga lentamente, em pequenos golos de ausência, em pequenos travos de solidão. Ficou por escrever, ficou por viver, mas o que se escreveu e o que se viveu nunca se encontrou noutra estrada que não esta.

Depois de pararmos na noite, ao vermos Lisboa imensa, deparamos um profundo vazio crescente, de quem deixou pernoitar os filhos noitra terra, donde não voltam mais, há silêncio demais, há fome que sobeje e há sobretudo um nojo enorme, uma repugnância aguda por todo o grosso inimigo ignorante que apaga em cada estupidez crônica o que muitas palavras edificaram em muitos anos por muitas mãos, em muitas ausências.

Mar ao Sul da minha terra, o meu pais neste momento
O solo queima, o vento beija

Ainda e sempre.

A Ary, 30 anos de silêncio...
Uma eternidade de sentido!