Há urgência nas palavras e sede nos silêncios, há uma torrente forte no tempo que nos joga para as despedidas mais fortes, as ausências mais tristes, há formas obtusas no silêncio e contornos imprecisos na tua boca que me trazem para perto, há verdade no teu sangue e sentimento no teu corpo. À que dizer sim, em cada despedida, no ultimo olhar, aquele toque repentino de dizer a toda a gente o que somos, somos maré negra nos oceanos, pássaro livre nos alteres e jogo sujo sem pecado.
Já não. Fica no tempo o que não criamos na mente, doendo por dentro e passando pelos braços, no vento, em contratempo na ausência, pelos dias e pelas noites, por cada ciúme e em cada hora, perguntamos ao tempo presente que agora ficou de ontem, que somos se inventássemos outro tempo...
Há nas formas um segredo que é teu, um desejo humano pelo igual, uma eterna conquista ao viver cada madrugada um pouco mais doce, um pouco menos alcoólica, onde o corpo se apaga lentamente, em pequenos golos de ausência, em pequenos travos de solidão. Ficou por escrever, ficou por viver, mas o que se escreveu e o que se viveu nunca se encontrou noutra estrada que não esta.
Depois de pararmos na noite, ao vermos Lisboa imensa, deparamos um profundo vazio crescente, de quem deixou pernoitar os filhos noitra terra, donde não voltam mais, há silêncio demais, há fome que sobeje e há sobretudo um nojo enorme, uma repugnância aguda por todo o grosso inimigo ignorante que apaga em cada estupidez crônica o que muitas palavras edificaram em muitos anos por muitas mãos, em muitas ausências.
Mar ao Sul da minha terra, o meu pais neste momento
O solo queima, o vento beija
Ainda e sempre.
A Ary, 30 anos de silêncio...
Uma eternidade de sentido!