Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

iR - VoLtAr


Nascemos no nosso sítio, esperando que o dis sejemos grandes o suficiente para o extravasar e cumprir a alma dos antepassados em gritos de loucura e actos de ousadia.
Abandonamos ilhas, criamos barcos, descobrimos paraísos, matamos escravos, restauramos liberdades, abandonamos as roupas velhas que têm a forma do nosso corpo e, um sensação fantastica nos cumpre, somos mais que isso, somos isso tudo.
Por muitas roupas que tiremos, muitos mares que naveguemos, muitos países que deixemos, somos sempre nós nesse pouco local e esse local é sempre nosso em cada passo pesado e em cada corrida apressada.

Assim como o ar que respiramos
Assim como a água que bebemos

O que somos é nosso
E o que fomos também...
...E o que seremos.

Que voz vem no som das ondas
que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos falla,
mas que, se escutamos, cala,
por ter havido escutar.


E só se, meio dormindo,
sem saber de ouvir ouvimos,
que ella nos diz a esperança
a que, como uma criança
dormente, a dormir sorrimos.


São ilhas afortunadas,
são terras sem ter logar,
onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
cala a voz, e há só o mar.
In Mensagem, Fernando Pessoa