Entraste no avião primeiro, com um último sorriso perto do meu, aquele até já foi tão longo, tão metálico que ainda hoje se passeia por dentro da alma, roçando nos cantos uma pequena ferida que não se finda, reacende como uma pequena luz, lembrando que ainda, lembrando que já, e tudo mudou e nada ficou diferente. Foste, deixaste aqui um rasto de saudade, um conjunto de lágrimas guardadas para ocasiões especiais, como as roupas bonitas para casamentos, ou os doces mais gulosos para festas, deixaste-as guardadas para os dias mais escuros, para que uma luz pudesse mostrar o caminho para casa e fossem pirilampos esses tempos, gotas essa luz, e tudo faria sentido quando perdessemos a ausência do mesmo.
O tempo passou, o tempo passa sempre como o ar, nasce de manhã, sentindo o despertar, os pequenos gestos que sei que fazes em direção ao céu, os pequenos sons que te dizem bom dia e o olhar que se recente da luz, da nossa. O mesmo de sempre, mesmo sem o sempre de alguma vez ter sido o sempre de sempre, sei que o é.
Existe algo, não sei o quê, uma criança perdida pela margem, por todas as margens do mundo, que corre perdida, que corre sem cansar, com um sorriso tonto e uma lágrima bruxuleante, uma criança que, não sabendo para onde vai, só quer saber onde não fica e corre, e procura, e lança-se pela estrada, às vezes caindo, outras vezes saltando, ela sabe que no fim, se houver, melhor, sabe que no instante último do caminho, haverá um novo e esse será maior que todos os outros caminhos que se correm sem percorrer.
Agora entro eu. Olho para trás e fica um pouco de mim, uma saudosista mágoa como sempre, um sentido de mudança de não ser quem o viu nascer, o não saber se, o querer também e todas as formas incompletamente sintáticas do mundo que aqui podia ser encriptadas, um simples e conclusivo mas que por nunca concluir, nunca é simples e por nunca ser simples, um mas é complexo, nunca conclui, e neste circulo de mas se fazem os homens que decidem sem contudos. O que vier daqui será desafio, uma nova terra e um novo ser, nós não somos mais viajantes, somos a viagem que um dia sonhámos ser.
Fechar Lisboa.
E abrir com ela os mas do mundo.