Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

domingo, 2 de novembro de 2014

Dá-me a tua melhor faca

Dá-me a tua melhor faca, corta no meu melhor prazer, revela todo o teu sentido, enlaça toda a tua alma, corta nas esporas no deserto e finge todo o grito do universo, deixa no tempo a ilusão, deixa na memória a hesitação, deixa crescer o que nunca nasce e mate o que nunca morre, Cria contigo o universo que não queres, destrói connosco o que desejas. Limpa a boca e encolhe o estômago, ignora a fome e fuma o cigarro, parte o espelho, não és quem ele revela.

Depois, deixa a calma fluir, deixa a hesitação assentar, sente as costas raspar nas vísceras da parede onde te encostas, numa rua qualquer, num beco sujo, num aspeto nojento de roupa flácida, deixa-te descer, sinto os sulcos a moer, sinto a dor a renascer e desço, calmo, hirto, sem esperança, parindo silêncios em cada milímetro, chego perto do chão, as pernas cedem, esticam, elevam-se, mentira, restam, limpando as calçadas e as entrelinhas, cheguei ao fundo, se não o houver mais, cheguei ao topo se o findar, provavelmente, não cheguei a parte alguma por falta de força para ficar.



Dá-me a tua melhor faca e cortamos isto em dois!
Amanhã é tempo de esquecer.