Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Sedado

Amanhece, frio, longe, só, sem sentido, simplesmente uma sinfonia de fundo sem ti, um solstício mundo sem nós, nas manhãs imensas dos dias claros, surge na janela um pequeno raio de escuridão, uma pequena brecha de destino, um peculiar rasgo de solidão, entra, penetra, toca e envolve, deixa-te ir nos seus braços para o longe, o infinito de nada, o mundo vazio de ti, uma pequena tontura, uma grande ferida, nascem sombras nas paredes dos reis, eu e tu, algo que fica longe pelas paredes. Nascem o chão muros sem fim, cobertos de cinza, recobertos de ervas crescendo a cada passo, mais rápido, mais alto, por mais que as agarre, as puxe, as rasgue e as tortura, nada as para, nada as faz, sedados pelo tempo que deixámos ao lado, o veneno que não deixámos cair, as pequenas gotas que nos saem do tempo e se deixam ir, de mim para ti, de ti para mim, dorme, deixa-te ir, e enquanto as paredes nascem e nos amarram a elas, cada vez mais perto, cada vez mais longe, eu e tu, não paramos, o mundo não para, o mundo não fica, e surdos, mudos, deixámos passar pelas linhas do tempo os caminhos que jurámos nunca percorrer sozinhos.

Sedados, mudos, calados, sem sentido, estamos cada vez mais longe, sem nunca saber o que foi estar perto.