Às vezes perder é bom, ter pontes só até ao meio do caminho, só chaves de janelas, só metades de ti, só partes de nós. Que do mar da vontade nos afogue em desejo, nas outras margens que ninguém sabe, onde a ponte não chega e o silêncio não parte, eu parto também, mesmo que me espreites, não atravessa ninguém, não sabes, não vejas, fica, e só, somente contigo numa ponte que só chega a meia margem, num barco só a meia rés.
Deixar na antecâmara o passado do tempo, o resto dos resíduos, numa sala fechada, num beco escuro, e partir pela maré dentro que me chama, não sei quem me reclama, sei quem já não me chama. Das mensagens e da voz, já sou eu ouvi, o nevoeiro cobre, a luz já não vi. Não me chores, não contes dias, não demores a encontrar nova companhia.
Não reclames a minha agua, não fiques no meu tempo, coração não chames, inflama, reclama, grita e espanta mas não me chores, da ponte so o reflexo, de mim so memória.
Do outro lado da ponte espera me uma margem que ninguém sabe e um silêncio que ninguém conhece.
Às vezes perder é bom se o fizermos com verdade.