Ainda te sentia o bafo ao tabaco seco que tragavas nos anos recentes, aquele travo amargo, ressentido pelas ruas queimadas de uma cidade usada, sem raiz, aquele toque que se contorcia no vermelho imaginário dos teus lábios carnudos, recheados de espamos voluntários como os meus, deus não escolhe que é feliz. Sorrias com o desdém de quem se intriga consigo mesma, uma leveniedade cínica, borrifada de um estrabismo hipócrita, sem queda, de quem sempre viu o reverso das coisas que de reverso so têm alma, atraias ciúme, inveje, não te perdes, eu não te encontro.
Sais te de mansinho, bateu te na porta de madeira comida pelos insetos, não pelo tempo que esse não passa aqui, repetidamente voltavas, caindo uma lágrima seca no soalho perdido, ninguém so marca por prazer, põe batom, reveste as unhas, despe, deus não escolhe quem foi feliz.
Das vezes que voltavas, sussurras as voltas no jazigo obscuro da mediocridade da alma que não vive, subsiste, num ritmado ato continuo de ver no chão o que não se reflete nas estrelas, sol, e partes, e voltas, e sem ires voltas e sem voltares partes, somos sempre incisivos nos cortes que não fazemos, e eu retomo e vou, e volto, e deixo e fico e sem sabor de ti deixo me provar, ir com o vento, dizer que sou, não tenho, conspiro, o destino não se faz de raiz e tu não te tiras sem dizer.
Por isso, desce as escadas, veste te de vermelho, traz do teu perfume, eu levo o piano, não exibas felicidade, nem desdém, sê leve com essa alma toda, não haverá queda, não haverá reverso, haverá piano, sinfonia, vinho quente e a nicotina de sempre, não perdemos pela demora ate que tudo se evapora, no ultimo trago do cigarro que não acedemos, puxa do verniz, não e deus que escolhe que vai ser feliz.
Aqui diz-se quando ninguém deixa. Aqui manda-se vir sem os gajos ricos deixarem. Aqui fala-se... E fala-se... Por ser isso que nos mantém vivos
Balelas (ou não) da Rua
Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra
sábado, 19 de abril de 2014
terça-feira, 15 de abril de 2014
Aqui
Não sei se andei depressa demais, ou se te não deixei correr ao meu lado, mas estou distante, não vou estar aqui quando a noite chegar, não ficarei eterna rocha no mar de sargaços, estupidamente fixado nas ideologias baratas de um mundo capitalizado de banalizações, não se vêm horas de não voltar aqui, não sei quando te deixei de ver, nem em que lugar o sorriso perdi, pedi mais tempo para olhar, não há sobras para ver, eu não estou aqui.
O tempo é depressa demais para quem tem tudo no tempo morto à espera que de morto ele não se altere.
Sei que algum momento terei para te olhar, num outro tempo, com tempo de ver, de agora em diante, não vou estar aqui.
O tempo é depressa demais para quem tem tudo no tempo morto à espera que de morto ele não se altere.
Sei que algum momento terei para te olhar, num outro tempo, com tempo de ver, de agora em diante, não vou estar aqui.
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Caminhos
Deixa na calçada o que dela é, sem pretensões de ter o que nunca foi efetivamente nosso. Sem mágoas nem ressentimentos, já outros falharam a vida, sem se aperceber que falhar a vida é simplesmente viver, percorrer eternamente os carros que nos guiam até ao infinito, com o fim último em todos os fins que nunca mais terminam. Seguir eternamente caminhos que não se tocam e falar sempre em linguas que não se cruzam, parece destino grego a quem de grego nada tem hoje e de tragédia só em escritas menores.
Nada muda no ano novo, nem nada fica no ano velho, se soubermos ficar sempre no limbo em que já não estamos, quedaremos sempre no tempo a dúvida que não tirámos no espaço.
Num outro momento, num outro tempo, sob outro céu, com música ligeira e vinho suave, tragarei de ti a alma toda que minha já não é.
Hoje estarei sempre com o meu amanhã e só dele pertenço.
Nada muda no ano novo, nem nada fica no ano velho, se soubermos ficar sempre no limbo em que já não estamos, quedaremos sempre no tempo a dúvida que não tirámos no espaço.
Num outro momento, num outro tempo, sob outro céu, com música ligeira e vinho suave, tragarei de ti a alma toda que minha já não é.
Hoje estarei sempre com o meu amanhã e só dele pertenço.
domingo, 13 de abril de 2014
Manifesto
Por onde vais correr, ao longo de quantos dias, corres às rochas e prendes-me ao porto, corres ao mar e deixas o mar ao sul, nada se fica, nada se prende, quando o perigo vem, quando a madrugada é suja, o que se passa?, ninguém sabe, cala e finge, eu corri para o rio que sangrava até ao mar, num único suspiro de vida, num único bafo de morte, onde a terra se esbate nos seus contornos lentos, nas suas farpas suaves, aqui não se esconde deus, aqui não se mata ninguém. Deus manda-nos ao diabo quando sabe que ficamos sem caminho, e choramos poder. Poder. Poder. O que se passa?
No fim da torrente, no ponto último das chamas, soam sinos de longe, nascem fontes de perto, nada mais se cria, nada mais se transforma, surge apenas uma estagnação última da miséria humana, um grito primário de quem vem de longe e matou em todas as guerras, aqueles que pedem perdão sem o querer, e os que amam demais sem o saber, a ignorância é a primazia
infernal dos pecados da carne, e o espírito último da cura dos corpos.
Que dizer em manifesto? Que se manifesta que "o sentido único das coisas, é elas não terem sentido único nenhum".
No fim da torrente, no ponto último das chamas, soam sinos de longe, nascem fontes de perto, nada mais se cria, nada mais se transforma, surge apenas uma estagnação última da miséria humana, um grito primário de quem vem de longe e matou em todas as guerras, aqueles que pedem perdão sem o querer, e os que amam demais sem o saber, a ignorância é a primazia
infernal dos pecados da carne, e o espírito último da cura dos corpos.
Que dizer em manifesto? Que se manifesta que "o sentido único das coisas, é elas não terem sentido único nenhum".
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