Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

É Preciso Saber



É preciso saber perder o tempo ganho na infância e deixar ir com as memórias de um menino perdido no seu sorriso e no dos outros, a inocência das mãos juntas, a ousadia dos saltos mais altos pelas poças do mundo e os pequenos gestos de amor infinito, é preciso saber ir pelas casas escuras do mundo e pelas noites imensas dos dias, com a cabeça erguida e os joelhos trémulos, inseguros, saber que um dia a manhã brilhará e o sol falará mais alto, saber que até lá as noites são frias e os passos inquietos, que em cada linha do amanhã há um pequeno espaço em branco, absorvendo cada gota de tinta que sai dos dedos cansados e dos olhos molhados, é preciso saber sangrar, deixar fluir os líquidos máximos do corpo, vendo os rios de vozes juntas e os silêncios das multidões, é preciso ver barcos embarcar e ir para o longe, ter no porto o descanso imenso da solidão e na margem de todos nós o segredo pasmado de quem nada tem a a guardar.

É preciso deixar escapar pelos nós o ar de quem não respira e ter em cada bafo o universo imenso.

É preciso ser para se poder deixar de existir.