Pus os meus sonhos num barco à vela, já de toque envelhecido pelos raios de sol, já com a madeira pisada, riscada, por todas as viagens que cruzou, enchi o mundo em si, coloquei-lhe com as mãos molhadas do azul das ondas, queimando ao pouco o toque pelo soalho rispido da madeira, e a areia que escorre dos dedos fica nos espaços ocos do vento de longe, as velas tremem aos primeiros raios da noite, debaixo da água, o casco rompe lento, morrendo a cada batida, chorando em cada maré, no que for preciso a vela remesce, treme e chega ao fundo do tempo e o sonho chega ao silêncio.
Choram agora as ondas ao ver o barco partir, crescendo consigo pelo horizonte do porto e no fundo do tempo, ao fundo do mar, chegam os sonhos que desapareceram.
No fundo do mar fica, tudo o que o vento já não consegue alcançar.
Naufrágio.