Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Pássaros


Nos meios dos pássaros que já não voam e das brisas que já não correm, há um deserto imenso de folhas recalcadas dos pés descalçoes que já não temos. De volta aos ramos caidos e às trovoadas secas, o ricochete das gotas do mar no teu cabelo, o rio secou. Não há quem suba o monte, não há corrente nem fonte, não há nada além de terra seca fazendo uma linha exíqua, tonta, arrependida, a voltar para ti como se assim tivesse remendo.
Um dia quando voltar, no fim que eras tu, não estarei cá para me ver, não voltarei a mim, serei outro que não este, numa estrada que não aquela, onde o infinito é tão pequeno como nós e o silêncio tão grande como todos.
Na luz da penumbra, desfolha-se um livro, talvez nas palavras dele existam respostas que nos teus gestos já não há.

De repente.
Não.
Num silêncio lento, num só gesto, numa só frase diz-me que ficas bem.
Eu vou e quando voltar, não voltarei. Há viagens que num sentido não têm sentido nenhum.