De tudo o que nos passa, pouco nos prende, nos agarra e nos corta aos fragmentos imprecisos das almas que se deixam ficar, as pequenas lutas, os ocos soluços e pernas dormentes, os gestos imprecisos e as maõs trémulas, tudo passa, mas fica, tudo vai, mas deixa, aquele espaço vazio que não segue contigo, que se deixa ficar enquanto desces a rua e te banhas no mar. Fica a questão de que, tempos a tempos, nos escondemos até à guerra final, onde vestimos os coletes de bala, as progressões morais e os retiros espirituais, o sol desce, o vento acalma, as sombras nascem lívidas, suspiradas, os passos começam e as balas são disparadas por dentro. Não há colete que nos salve, nem escuro que nos esconda.
Depois, viramos as costas e andamos, sorridentes, o sol morre, o dia passa, no teu caminho, no meu passado, cada golpe se sara só, cada corpo se deixa ir no pecado, pelas paredes da vida, no silêncio dos pares.
Gostava de dizer sem arrependimentos mas palavras voam com o vento, gostava de dizer que não mas as mentiras ficam nas orações.
Ando para longe, onde o sol só nasce amanhã, a histórica fica, a onda passa,
Tudo é o eterno recomeço do nada que sempre acaba.
Há que saber partir quando simplesmente não faz sentido ficar.