Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Movimento

Os carros andam, as pessoas correm para os seus afazeres, nada nesta cidade está parada há espera que aconteça mas igualmente ninguém faz nada para se fazer acontecer. Este movimento perpétuo de semblante triste e olhar machucado não é nada mais que um engano perene de utilidade, um milagre inútil dos que há aí em adivinhos e aspirações espirituais, de nada nos serve mover senão o fizermos para o lado certo.
Deixemos os cães ladrarem aos parados da vida. Rotos e sujos, poeirentos de teias por estarem demasiado tempo à espera de terem tempo ou de simplesmente alcançarem mais que o sonho, além do espectro iluminado. Eles que se fiquem no barulho, nós vamos continuar. Parnaciosos e cientes que quem nos ladra se mexe sem criar, se cria sem fazer e, pior, vive sem sonhar e dorme para continuar.
Aqui vive-se de sonhos, uns inúteis, outros utópicos, mas eternamente patentes no olhar de quem vê.
Aqui dorme-se com sonhos, abraçando e contornando cada corpo sonhado numa elegia sangrenta de sorrisos macabros, não maliciosos, de gozar nos momentos a eternidade das vidas dos outros.
O nosso movimento é controlado, não pelo mundo mas pelo sonho.

O nosso movimento não é maior, simplesmente é nosso e tem tanta mais sede do que aqueles que não bebem.