Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Torga

"—Mas porque não deixa você de escrever durante uma temporada, para descansar? — perguntava-me hoje alguém. — Porque era a mesma coisa que um crente deixar de rezar um mês ou dois, por higiene." Miguel Torga

Se nos quedássemos no mundo das ideias, onde os corpos so se corrompem por palavras, ficaríamos sempre longe da alma que nos afaga. Apenas na distancia imprecisa das modalidades impróprias nos pudemos, nos criaturas da carne, construir sacrilégios maiores para tempos diminutos, onde possamos deixar marcas tão grandes como silêncios e vastidões tão grandes como o vazio.
É isto que nos impulsiona, a sede dos homens que vivem segundos, não os dias, não os meses, mas cada segundo condensado na brisa das arvores, cada instante com o sabor adocicado do medo, intensamente tudo no pequeno intervalo dos instantes.
Com isto pergunto se te quero encontrar, sei que se me quiseres estarei longe daqui, perto do mar, onde todos os instantes são vida e todos os momentos solidão, nas aguas do mundo e na sede dos homens.