Em entrevista, um psicanalista analisa cuidadosamente as nesgas irreiais emanadas pelo prenuncio de paciente que deslizava pelo sofá, num gesto de repúdio para com a propria inteligencia, uma abdicação incorporea dos prazeres mudanos da auto-comiseraçao, e o psicanalista pergunta, Como se Sente?, esta pergunta tão simples, tão mundana e tão banal, preenche-se em respostas múltiplas, logo não certas, logo não completas, logo não respostas.
Sinto-me irreal por tão real que não sou, vejo a baixa pelos olhos de quem lá dorme ou de quem lá já morreu, sinto cada pedra no meu corpo, cada laço na minha alma, cada desprezo e cada olhar trocado passam-me pelos nós das veias e inundam-me o sangue de veneno, todos nos olham e ninguém nos vê, afinal a realidade deve ser isso, a primeira ilusão, a única ilusão que os olhos verdadeiramente captam e que o cérebro pretende ocultar-nos, desprendendo-nos desta complicação completamente irracional de descobrir o racional da realidade, somos, portanto e óbvia dedução, nada, ou tudo, depende do ponto d evista, somos a realidade mas como a realidade é a ilusão primária, ao não assegurarmos que a realidade possa existir e caso exista seja o que apreendemos com os nossos olhos, somos a ilusão de nós mesmos e o que vimos nada é mais do que a ilusao que os nossos olhos criam quando se espelham, as pessoas são reflexos nossos, projecções ilusórias, não me sinto porque não mo sou, a ilusão que comporto prenúncia nas suas palavras uma tentativa de aceder ao meu mais profundo tédio, mas como você é ilusão e eu ilusão sou, a realidade que presenciamos é apenas o sonho de algo superior.
Silêncio.
Vazio.
Calma.
Num experante grito de dor, o psicanalista acorda de um sonho, passeia-se pela secretária, abre as janelas, vê o sofá e salta pela janela.
Dois sons se ouvem, ninguém cai, o escritório está vazio.
A realidade é a ilusão dos sóbrios, os sonhos são a ilusão dos poetas e a ilusão é a realidade que construimos.
Somos o que somos e essa é a única realidade do mundo.
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