Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

domingo, 10 de fevereiro de 2013

'Não se pode morar nos olhos de um gato'

Enquanto nesta noite o meu reflexo ficar amarelo, nos olhos de um gato preto que segue na rua, como tantas outras espécies que circulam, não moro mais. Beija, arranha, queima, foge, circunda-te de espaço, serve-te, serve-me e brinca, queixa-te e coxeia pelo mundo que quem vive aqui, não mora jamais. Aleija e fere, foge e grita, desencante e desanda, neste espaço não nos chocamos mais.
Eu vou-me.
Eu vou para Longe, para o sítio donde partem os navios sem rumos e as velas sem vento, onde outrora as árvores foram verdes e o fogo flamejante, onde a chuva molha e o tempo passa, vou para aí. Quem sabe um dia não esteja lá mais, espanque a vida, alicie os deuses a irem além, ao tempo infinito, ao espaço inacabado, serem a natureza e respirarem, faz tão bem respirar longe, ser perto de nós mesmos e estarmos afastados do mundo.
Eu vou para Longe, onde não sou nada, porque não se pode morar nos olhos de um gato nem viver nos sonhos de uma pessoa.

Não se pode morar nos olhos de um gato. Não se pode chegar a sítios sem porto.

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