Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Quimera

Tropeço em mim e passo por Lisboa. Cresce em cada caso uma milagrosa magia de desprezo, de desconfiança e nojo, somos nós a morrermos sós. Se me bateres à porta, hoje, direi que não, não quero ilusões, nem transtornos aos olhos, se vieres direi que não, se um dia nos virmos sorrirei com gosto como quem passa por um oásis em pleno deserto, até lá nego. Nego querer, nego ser, nego tudo e nego-me ao silêncio.
Há nesta rua demasiada gente a passar, gente de negócios bem vestida, artistas descambidos e personalidades exuberantes, não há som contudo. Chove e não oiço nada. Não bate em terra a água pura do céu, não salpica os olhos, não limpa a alma apenas passa por nós como a noite, não fica, não deixa, vem e parte como tudo o resto. Ouve a chuva na terra molhada, não aqui, longe, rasga a luz em som e talvez me oiças a dizer adeus.
Quando a chuva vem de noite e ninguém bate à porta, não salto da cama, nem me aparto nela, sinto-me num limbo de quem não é, não é sossego, nem é esperança, não sente, nem dói, subsiste.
Quando a noite passa e a madrugada vem, quimeras são as que ladrão pelos terrenos lamacentos deste bairro, porque vivo?, ironicamente passam outros.
Quando bateres à porta nego que te abra,
Não te garanto que esteja fechada.

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