Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Sem Abrigo


A cada dia cresce um frio mais agreste vindo do norte, daqueles bafos de não existência que trazem os corpos para perto e afastam as almas para longe, circunscritos ao espaço infinito de nenhures, onde o sol é mais e o vazio é tudo. Navegamos na imagem que temos do outro, em pequenas oscilações de ternura, aumentando a distância da miragem, passa a noite mais escura, não vem um dia mais claro, esta distância faz a noite.

Tudo o que era eterno morreu hoje quando de manhã acendi o cigarro e tu não estavas cá, não senti o teu rasto, não sei do teu perfume, a varanda estava aberta para o rio e o sonho aberto para o silêncio, os pássaros dormiam sossegados nos beirais cinzentos destes prédios, o que senti ao sentir a tua mão, nada, senti o tempo voltar atrás e tudo era recordação, eternamente repetida, eternamente criada, a novidade a todo o segundo, onde foste não sei.

Volto para o abrigo daqueles que não o têm jamais,
Volto às manhãs em que só o café me toca a boca, onde só o fumo me afaga a alma.

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