Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

quarta-feira, 23 de julho de 2014

O esquecimento global I

Se sentes o corpo a soluçar, nas vagens mais impuras do tempo, levando a nicotina espalhada pelo corpo nos tecidos vazios da memórias, apagando a cada bafo mais hirto as verdades mais certas, mais nubladas, que as bocas não contam, que o corpo não esconde, se sentes lá fora a chuva, um novo toque, leve, descobrindo nos resquícios de cada gota as laminas impenetráveis das tuas unhas, os contronos suaves dos lábios e as naves perdidas do rostos que se queimam, numa tempestade de areia, num risco de teimosias sem precedentes, fica com o desejo eu cumpro o que não disse, muito mais do que se falou, não houve silêncio que ficasse, nem palavra que se escondesse.

Penso às vezes que se safa no final do dia, quem é que passa pelos cabos tumultuosos da vida e se ingere a si próprio em leitos profundas de regojizo, não é a pessoa mais inteligente, nem a mais bonita, não é a mais rápida nem sequer a mais astuta. Fala-se em adaptação, uma mutação constante com o passar do tempo, adaptação ao vento mais forte, à carne mais crua, passar sem comer ou ter que dilacerar os corpos inertes deixados ao abrigo do tempo para sobreviver. No fim é deixar ao acaso do esquecimento o que sempre nos recorremos nas lembranças, deitar ao fascínio as despreocupações largas do dia-a-dia, deixando se levar na corrente da sobrevivência, na ternura dos que se plastificam nas circunstâncias.

No fim o que conta não é a sobrevivência, não é a persistência duradoura no tempo, omisso de gente, omisso de alma quente que embale nas insónias, é a marca que se deixa quando se passa, a memória que fica no que resta, na cabeça dos tolos, na memória dos sábios, é aquilo que se põe no único momento em que se pode, é o que se deixa como os últimos que se vão.

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