Chego a casa, dispo-me, deixo as roupas largadas de suor frio pelos cantos mortos desta casa vazia, enche-se de mim com o muito vazio que trago dentro. Deixo passar a mão fria pelo braço, deslizando calmamente, sentindo cada espinho roçando, cada cicatriz marcada. Desliza, perdi-me, não sei qual o caminho até ao fim desta minha estrada.
Deixei-me lá fora, no meio das multidões que não encaro, embora olhe, deixei-me lá fora no barulho da cidade e, cá dentro, sou eu, estou despedido dos outros. Passo pelo espelho e não o olho, só me vejo na distância longa entre o que sou e o que devia ser.
Silêncio enche-me uma vez mais, a cabeça pesa, o corpo descai marcando a parede de pequenas gotas de solidão, perdi-me, e deixei-me ir com a gravidade, atingindo o chão num calmo silêncio, ensurdecedor a todo o restante que me abraça.
Aperto-me uma vez mais, agarro-me uma vez mais, atiro-me uma vez mais, arranho o ar uma vez mais.
Perdi-me lá fora. Aqui sou eu, perdido dos outros, a encontrar-me no silêncio do meu corpo, nos gritos da minha voz muda.
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