Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

domingo, 19 de maio de 2013

Não sentir o Ar

Perdemos o chão num segundo, quando colocamos os dois pés levemente assentes no chão, experimentando as suas particulares rugas e os seus leves contornos, esvoaçamos os braços para encontrar alguém que efectivamente já lá não está mais. Caímos ou ficamos inertemente suspensos num gap temporal que nos faz levitar, perdidos no sentimento instantâneo que nos faz rodopiar o tempo e perder o espaço a nossa volta. Tudo se contorce á nossa volta, giram imagem, tocam nos cheiros e a leveza da memória sai nos de repente e sem pedir. Num lapso cai a primeira lagrima e deis outra e com essas a leveza da magoa faz levitar as defesas e deixa ofender sob a chuva o caminho percorrido pela dor nas ruas da gravidade. Somos tão pouco no mundo que ninguém nos faz existência.
Quando vamos na rua não somos gente. Perdemos a inocência de esperar que tudo dure para sempre, que permaneçamos inertes, estáveis e duráveis nas curvas da rua e no caminho das estradas, por todos os por do sol possíveis e deslumbrando todos os ciclos intermináveis da natureza. Mas não, mas nunca, não sempre...
Quando vamos na rua não somos homens. Perdemos a forca de nos olharmos de frente com medo que os olhos tocam os que as palavras temem em enfrentar, com receio que a alma ceda num corpo já cedido à magoa das horas.
Quando vemos o tempo não somos inocentes. Quando vemos os olhos fechar, um rosto pálido e frio, eternamente encerrado na sua escuridão, perdendo o vislumbre do tempo nas rugas da eternidade, sem o suspiro dos ruídos da rua ou o traço humano do calor, do ar, do movimento simples, da empatia complexa, onde as mulheres bebem vinho e os homens fumam a mesa, resguardando os mais novos das dores do mundo, onde já foi isso que nao mó digam, estou longe demais no tempo para saber há quanto tempo fui gente dessa.
Quando encerramos uma pagina nao somos leitores.
Nao sinto o ar, nao porque ele nao o há, mas porque eu nao sou, nao por enquanto, nao no entanto.

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