Aqui diz-se quando ninguém deixa. Aqui manda-se vir sem os gajos ricos deixarem. Aqui fala-se... E fala-se... Por ser isso que nos mantém vivos
Balelas (ou não) da Rua
Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra
terça-feira, 6 de agosto de 2013
Nocturno I
Estava escuro quando saí do trabalho, laça pelo cansaço de horas programadas a rigor científico num escritório sujo e desbarato, com um inianável cheiro a moço que inundava de suor quente e de noites de insónias. Inquietamente pisei a calçada que me levava ao eléctrico com destino ao meu porto seguro e isolado, morbidamente habitado por um gato que de tão pouco miar me compreendia as vísceras frias das noites que partilhávamos sozinhos. Os meus passos ecoavam com os de outro alguém, ao mesmo ritmo compadecendo nos mesmos instantes, que nem relógios atómicos programados para reluzir ao mesmo instante, criando eternamente no futuro, um similar presente. Um pâncio absorveu-me. Não um pânico de girtos e contorcimentos corporais, mas uma onde de mágoa e de lágrimas que me fizeram temer por cada instante, em cada inspiração mais pesada e cada passo menos hirto. Placidamente segui o meu caminho, agarrando a mala junto ao coração, só ele me protege, passaram por mim, sem mais ninguém as ver, todas as pessoas que dali me poderiam levar. Vi os sorrisos da minha infância, onde na pequena aldeia onde habitava me traziam água e me davam felicidade.
Aproximou-se. Os passos tornaram-se mais lentos...compassados... Parei e desisti... Não me sabia a nada o ar, não me enchia em nada cada toque terno que me davas, não era mais nada senão um corpo vazio, um cadáver podre, proscrito pelo tempo, vagueando ensamble pelas noites esperando ver em cada manhã um sol que nunca veio. Que sentido nos fica quando os nossos se perdem na noite?
Abri os olhos pela última vez e apertei-os forte abraçando as pálpebras cometendo o crime de ousar desistir enquanto os passos paravam ao mesmo tempo que eu, enquanto a respiração se quedava ao mesmo tempo que a minha, ao mesmo tempo que a lua sombreava o mesmo rosto que o meu numa montra velha de uma livraria já feita história. Aí vi, o meu grande perseguidor sou eu mesmo, eternamente sozinho comigo pelas ruas de Lisboa até um dia desaguar no teu cais.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário