A minha casa é só portas pelas paredes, nem um pequeno rasgo de luz nela entra, não se ouvem miragens de vidas nem subsiste nela a voz dos outros. Há em mim o desejo de fechar do mundo o proprio mundo que criei. Um fracasso. Um dia, depois de encher o estômago com iguarias mil, olhei para o fundo da rua, deslumbrando com a quebra do olhar quem comigo ia, que o nosso transporte se ia também. Falhamos a vida, Já li isto noutro tempo. E com ela falhamos tudo o que havia a falhar. Não criamos um mundo nem conseguimos melhor este que nos habita, incapazes de abrir janelas, fechamos portas e criamos vazios em espaços que ja ninguém habitava. Com isto deixá-mo nos seduzir pelo silencio até que perdemos a voz que nos deixava gritar.
Leva com o vento o resto de mim, pequenos farrapos de poder, pequenas trocas entre mim e eu, nunca ficando mais que nada, nunca perdendo algo que não tudo.
Pelas portas ouve se o vento de fora, os carros que passam e as pessoas que nascem, dentro delas existo, mentira, subsiste, vegeta, principia no fim de si mesmo, um ser que não sei quem é. Como janelas não as há fiquemos pela curiosidade de quem um dia diz que ouviu dizer de alguém que não conseguia ver, que ali entrara alguém, simplesmente por ali havia ficado.
Não se sabe quanto, não se sabe porquanto, apenas reza a história que falhado da vida se entornou nas portas, esperando contudo um dia ter forças para nelas criar labaredas e enchentes de fogo nos céus do mundo, esperando contudo um dia ser sonho mais forte que este que perdeu a força de sonhar.
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