Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Os Bichos

Deixa me no silencio das escadas onde nada se mira senão o proprio silencio contorcendo se de pasmos dolorosos a cada volta que torce sobre si mesmo. Passam por mim baratas rastejando nas cadas de Madeira pútrida onde me sento, bichos de nojo, repugnos da decadência humanista em que caimos no dia em que nos pariram, raivas milagrosas de um santo que mal via, pequenas almas de alguém que só voa se partir a asa de outro bicho que tal.
Comem se inteiros noutro canto, uma aranha gorda outra mais pequena, indefeso, sem armas, sem voz que pedisse, Acudam que não posso mais, sem mesmo os braços que não esperneiam pelo ar como bastões loucos ao vento, come e deixa se ser comido ao entrar nas entranhas de quem comeu, deixa se ir porque sabe que o seu tempo morreu.
Noutro dia que não esta, residiam aqui duas rolas, pequenos bichos barulhentos que esvoaçam o pó pelo ar, pequenos espanadores sem tino ou controlo, inquietas, parecendo sempr escalar uma com a outra, vizinhas apostólicas da eterna Lisboa sem assunto extra senão os assuntos nos outros. Um dia, juro que um dia, ouvi, e juro que ouvi com os ouvidos que me não deram, sussurarem em altos modos que a rola do quinto esquerdo tinha caído de um telhado empurrada pelo marido que batia de aflição por ter sido apanhado a voar com mais que um pássaro na mão, de uma vez, a pobre coitada desviou o olhar e caso não fosse caso de criar vasos na rua do outo, partilhou se a dor com a asa partida e toda a garret assistiu calada ao esforço inútil de cair de pé.
Por fim, no castanheiro do bar do Carlos reside um pequeno morcego cego da noite, não há milagre nem álcool que lhe encha de sangue a visão e o faça ter na cara as vistas de fumo que lhe entram no pulmão.

Fosse Lisboa so zoológico e residiríamos  em paz nas jaulas do mundo, zoológico ja o é, jaulas ainda as não tem.

Sem comentários:

Enviar um comentário