Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Acabo

Que faria sem um caminho de onde fugir, daquele trato que nos chama e depois nos deixa ir, que irá correr nessa mente que ninguém sabe, Eu estou bem, há mar suficiente para respirar, há loucuras que cheguem para sobreviver, há um trato amargo que nos chama a provar, uma chama latente, reluzente, pequena, quente, eterna, flamejando no ar em espirais sucessivas, deixando-se levar com o vento e não para o vento, resistindo num canto escuro à escuridão, num canto ventoso ao vento, e na memória, resistindo ao tempo. Pequena, uma cascata de fogo para o céu, sem o levedar do tempo, sem o ocultar da memória, onde aquecemos as mãos nas noites mais sós, onde respiramos nos momentos mais sôfregos de ar, há nele um espírito antigo, talvez a razão de lá estar, um resquício de uma vida anterior ou a premonição de uma futura. Dar-te-ia tudo, essa chama sabe demais para não receber, há nela o segredo antigo dos navegadores, a sede eterna  das almas que querem descobrir sem saber o quê, os viajantes de terras sem nome, os agricultores das terras do mundo, os saudosistas do nada, sabes quem são.
Há caminhos onde a luz não chega, e perdemo-nos, deixamo-nos ir por caminhos paralelos que não chegam ao mesmo sítio, não passam pelas mesmas árvores nos mesmos arvoredos, rodopiam em si pela construção metafísica do tempo convexo, uma entrada per si dentro, flagrante, entorpecida pela dúvida, humedecida pelo medo, entalada pela solidão, mas seguimos, pelas curvas e pelos picos, sabendo do fim.
A pequena chama mantém-se, calma, olho para ela, sem ver, Acabo em ti. Tudo em mim tem uma tendência para o fim, eu mesmo me acabo quando me perco sem ninguém.

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