Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Poço Profundo



Estamos aonde nunca fomos, estamos onde muitas vezes não queremos, ensurdecedidos de silêncio, mergulhados num vasto mar de nos mesmos, sem ondas, calmos e perenes na vida oca de estar só, procurando simplesmente algo nosso que seja ainda nosso, mas nunca fora de mim, mas nunca a ver, sem sentir, a brisa leve de mim no meu cabelo, um emaranhado sem fim de mim em mim mesmo, confuso e tão profundamente lúcido, em quinas de tédio e chagas de diversão, emaranhado em fios de pensamento, pensar não dói, a dor é que nos faz pensar.
Somos pedaços, pequenos pedaços de lágrimas e sorrisos esvoaçados com o tempo e esmagados pela saudade.
Uma vez ouvi que somos excelentes naquilo que fazemos, e que tal se nos fizermos a nós mesmo, uma auto construção, uma auto-busca pelos cantos obscuros do nosso ser, seremos excelente em nós mesmos?, consiguiremos algo dia criar esse ideal de perfeição no ideal de imperfeição que é o ser humano. ´Metade do que somos é o que existe do que apresentamos'.

Irei sempre onde estiveres, serei sempre o ideal que criaste, estarei sempre em todos os abraços, caindo com todas as lágrimas, em cada dente do teu sorriso, em cada lábio de um beijo, em cada mão, em cada castanho dos olhos, em cada calçada, quer me vejas quer não, serei sempre a brisa de todos os nossos ventos, as ondas de todas as marés, os cheiros de todos os perfumes, quer me sintas quer não, nunca serei o que não sou, nunca direi o que não quero, nunca fingirei o que não sinto, quer concordes quer não, afinal buscamos sempre ser fieis a nós próprios, quer saibamos quem somos quer não.

A minha ausência pertence a todos os que a sentem, mesmo que eu nunca a sinta. As palavras pertencem a todos os que as queiram para elas, mesmo que eu as queira só minhas, possessas de raiva e vãs de desejo.

Não somos mais um, somos aquele uno, juntos, separados, apartados de dor ou juntos de riso, somos o que queremos criar, em épocas que quiseres sonhar em terras por descobrir e mares por navegar, somos nós, altivos e confiantes, baixos e curvos, mas somos nós.

Um dia irei descobrir o meu mar, um dia irei ser o meu sol, um dia serei água de todas as flores, um dia irei chorar todas as dores e rir de todos os pecados, um dia serei o criador para no seguinte o destruir, um dia,..., até esse dia chegar serei quem nunca fui, além do mais que quero ser. Medo?, não, Os defeitos nunca são maiores que nós, juntos. Receio?, não, Os defeitos nunca são maiores que nós, juntos. Arrependimento?, Os defeitos nunca são maiores que nós, juntos, não.

Somos de ninguém e pertencemos ao mundo.
Pertenço se quiseres mas serei sempre ninguém, quer sejas ou não...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Pernoitas em Mim


pernoitas em mim
e se por acaso te toco a memória... amas
ou finges morrer

pressinto o aroma luminoso dos fogos
escuto o rumor da terra molhada
a fala queimada das estrelas

é noite ainda
o corpo ausente instala-se vagarosamente
envelheço com a nómada solidão das aves

já não possuo a brancura oculta das palavras
e nenhum lume irrompe para beberes

Al Berto, in 'Rumor dos Fogos'

Lembra-te


Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos

Mário Cesariny, in "Pena Capital"

Cansaço


Leva-me no comboio da madrugada pelas baladas tristes da infância, por luzes que não se apagam, por canções que inundam e por vozes que apagam.
Transporta-me pelo mar, pelos amigos, pelos ódios e pelas perdas.
Manda-me pela estrada certa, desamparado de alegria, desencantado de poesia.
Manda-me todos os sóis, apaga-me todas as luas, que ninguém ve os cantos de dor que só se sentem quando nos dói, ilumina a alma e rega o pranto do choro, inunda-me os olhos com faisca de lagrimas.

Cansaço pobre antes de nascer, cansaço povo de um povo amarrada pelo presentes e pelo passado.
Amigo, cansaço, antigo, serás tocado pela agonia, esmagado pela ironia em cada tarde de alegria e em cada laço de cansaço, esmagado...

Cansaço amigo, Cansaço cansado.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Lembra-te


Quando subires a rua que nos viu passar, amargurados e felizes, tristes e alegres, sós e acompnhados, lembra-te.
Quando a gratidão que de mim esperas se findar, lembra-te.
Quando a nossa companhia for a solidão, lembra-te.
Quando precisares de viver, quando precisares de mim em bafos de desespero, lembra-te.
Quando for dia de dar ou véspera de receber, lembra-te.
Quando o mundo for redondo e a evidência empírica de o ser, parecer com a realidade, lembra-te.
Quando o termino despertas das suas magras vestes de saudade, lembra-te.
Quando o dia chegar, lembra-te.

Lembra-te,

O mais importante de lembrar, é saber esquecer.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

TeMpO


Ambos se cruzaram, os dela de tão límpidos que emanavam pureza por todas as que suam nos oceanos, os dele que suspiravam cansaços de já não querer mais querer. Sentaram-se sem palavras, o silêncio dizia tudo, nada dizia tanto como o silêncio, empleno bairro, à beira do oceano inteiro, pelos rochedos do mundo e os pastos da terra, aqueles olhos olhavam-se de magia e quedavam-se por um instante de horas fixados na mórbida ideia de nunca se puderem fundir, não era demais, não era demasiado pouco, nada é pouco a não ser que não quereamos e tão pouco pode ser demais se não o desejarmos, a vida são proporções.

O tempo olhava-os de ralance através do seu manto negro de memória, o esquecimento de não nos lembrarmos de ser o futuro, o que somos é isto mesmo, se é real, se o criamos, se é falso, se é verdadeiro, é nosso e foi isso que fomos e será o que erguerá de novo a ruína dos heróicos passados.

Não sombra, não mais, somos paridos pelo bafo dos heróicos passados e esquecemos que sem nós o passado morre, o Tempo olha-nos uma última vez pelos seus olhos pretos de completa paixão por si mesmo, Mostrem-se mortais, e eles quedaram-se uma última vez à instância de 2 toques, e o Tempo parou porque o futuro era deles e nele o Tempo é eterno.

Se souberes manter o tempo vivo para sempre, matando agora as nesgas que lhe sobram, vais ser mais, vais ser melhor, serás Rei, serás Rainha dos reinos de aquém e além dor, se for demais....

Quem sabe, o tempo tem apenas o tempo que nós queremos que o tempo tenha

Realidade


Em entrevista, um psicanalista analisa cuidadosamente as nesgas irreiais emanadas pelo prenuncio de paciente que deslizava pelo sofá, num gesto de repúdio para com a propria inteligencia, uma abdicação incorporea dos prazeres mudanos da auto-comiseraçao, e o psicanalista pergunta, Como se Sente?, esta pergunta tão simples, tão mundana e tão banal, preenche-se em respostas múltiplas, logo não certas, logo não completas, logo não respostas.
Sinto-me irreal por tão real que não sou, vejo a baixa pelos olhos de quem lá dorme ou de quem lá já morreu, sinto cada pedra no meu corpo, cada laço na minha alma, cada desprezo e cada olhar trocado passam-me pelos nós das veias e inundam-me o sangue de veneno, todos nos olham e ninguém nos vê, afinal a realidade deve ser isso, a primeira ilusão, a única ilusão que os olhos verdadeiramente captam e que o cérebro pretende ocultar-nos, desprendendo-nos desta complicação completamente irracional de descobrir o racional da realidade, somos, portanto e óbvia dedução, nada, ou tudo, depende do ponto d evista, somos a realidade mas como a realidade é a ilusão primária, ao não assegurarmos que a realidade possa existir e caso exista seja o que apreendemos com os nossos olhos, somos a ilusão de nós mesmos e o que vimos nada é mais do que a ilusao que os nossos olhos criam quando se espelham, as pessoas são reflexos nossos, projecções ilusórias, não me sinto porque não mo sou, a ilusão que comporto prenúncia nas suas palavras uma tentativa de aceder ao meu mais profundo tédio, mas como você é ilusão e eu ilusão sou, a realidade que presenciamos é apenas o sonho de algo superior.

Silêncio.

Vazio.

Calma.

Num experante grito de dor, o psicanalista acorda de um sonho, passeia-se pela secretária, abre as janelas, vê o sofá e salta pela janela.

Dois sons se ouvem, ninguém cai, o escritório está vazio.

A realidade é a ilusão dos sóbrios, os sonhos são a ilusão dos poetas e a ilusão é a realidade que construimos.

Somos o que somos e essa é a única realidade do mundo.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Cavalo à Solta


A amargura de um sôfrego de um beijo no rosto amargurado da esperança, que já não a vemos mais, um simbil rasto de fumo branco nos resta na imensidão só da nossa dor, um vácuo de frio que nos aquece até nos juntarmos, não, a junção de dois corpos não é a fusão das almas, a vida é mais que um não claro à boca da morte, o tempo é mais que a ausência de nós, diz que sim, diz que não mas diz, a tua palavra é a chave de todos os muros e de todas as portas, por isso grita, diz a toda a gente o que entrou em jogo, diz ao mundo que jamais ousou ser quadrado a vontades mil, grita que a alma é fogo e o tempo é quente, e nós somos labaredas do destino, vazio, cheio, corrido e parado, dizer que sim, dizer que não, mas nunca parados, despedidas e cumprimentos, sortes e azares mas mais sempre mais, querer mais, querer pulsar os sonhos pelos jogos de ansiedades, jogar a última carta na primeira jogada, senão é tarde e tão tarde que nem o tempo é tempo e a morte já é sinal de vida, o que dizemos e o que sentimos são esfuziantes gritos da saudade que nunca nos deixamos ter, porque afinal nunca somos nós, nunca existimos além das linhas, além dos tempos, além das miragens de todos os desertos, mas fomos mais que um dia todos serão, fomos a atarde de todos os dias fomos a loucura de todas as manhas, fomos o sol de todas as luas, fomos tudo e tudo fui tão pouco,

A alma não toca a beleza do ser, extravasa-o

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Fernando Pessoa


Faz hoje 76 anos que o Grande Mestre deixou de vez os seus disicpulos, faz hoje 76 anos que Ricardo Reis ficou cambaleando pelo curto cordel que nos separa da vida.

Há quem morre e quem seja eterno e a lembrança é o rasto da eternidade.

Tanto pode ser dito e sempre ficaria incompleto. Deixo apenas um pequeno texto de Pessoa que vi há poucos dias e que nos deixa a pensar. E pensar dói tanto...

Um dia a maioria de nós irá separar-se. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos. Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido. Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida. Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos. Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Até que os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro. Vamo-nos perder no tempo.... Um dia os nossos filhos vão ver as nossas fotografias e perguntarão: "Quem são aquelas pessoas?" Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto! " Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!" A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...... Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo. E, entre lágrimas abraçar-nos-emos. Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes desde aquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado. E perder-nos-emos no tempo..... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida te passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades.... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"



Winston Churchill


Nasceu neste dia, no ano de 1874, o por duas vezes Primeiro-Ministro de Inglaterra e o prémio Nobel da Literatura, Winston Churchill.
Atravessou a segunda guerra mundial e morreu a 24 de janeiro de 1965.

Uma inspiração para muitos...

"A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes.

Os homens tropeçam por vezes na verdade, mas a maior parte torna a levantar-se e continua depressa o seu caminho, como se nada tivesse acontecido.

A desvantagem do capitalismo é a desigual distribuição das riquezas; a vantagem do socialismo é a igual distribuição das misérias.

Estou sempre disposto a aprender, mas nem sempre gosto que me ensinem.

Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir.

Não


Não, recusa o tempo que o tempo perdeu paciência.
Não, sê eternamente eterna na eternidade.
Não, dá cores ao arco-iris que ele poucas coras tem
Não, cria o mar de ondas de fogo, brotando lágrimas de labaredas em campos de lírios.
Não, um muro é tão forte como uma porta fechada.

Não, a palavra da recusa da entrega de almas ao purgatório.

Não, a palavra sábia que recusa a inteligência.

Não, a ode de todos os que se querem.

Ne Me Quitte Pas


Não me vás deixar
importa esquecer
trata de esquecer
o que há-de passar
esquecer o tempo
dos mal-entendidos
e o tempo perdido
em busca do vento
esquecer de vez
o que sem parar
nos tenta matar
com tantos porquês
Não me vás deixar

Por mim te darei
pérolas de chuva
dum país sem chuva
que nem água tem
deixarei tesouros
depois de morrer
para tudo te encher
de luzes e de ouro
um reino farei
onde a murmurar
de sempre te amar
só tu serás rei
Não me vás deixar

Não me vás deixar
inventar-te-ei
palavras que nem
se podem escutar
e falar-te-ei
de quem por amor
destrói o terror
de todas as leis
e a história de um rei
morto de pesar
por não me encontrar
também encontrei
Não me vás deixar

Já mesmo se viu
do fundo de um mar
que nunca existiu
o fogo brotar
acontece enfim
um campo queimado
dá um perigo mais grave
que o melhor Abril
e ao cair da tarde
vão-se misturar
sob o céu que arde
tantas cores aos pares
Não me vás deixar

Não me vás deixar
nada te direi
nem chorar já sei
vou ali ficar
dali te verei
dançar e sorrir
e escutar-te-ei
a cantar e a rir
até me sentir
sombra de uma sombra
que há na tua mão
sombra do teu cão
Não me vás deixar
Não me vás deixar
Não me vás deixar
Não me vás deixar

David Mourão Ferreira

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Junta as mãos, põe-as entre as minhas e escuta-me, ó meu amor.


Junta as mãos, põe-as entre as minhas e escuta-me, ó meu amor.

Eu quero, falando numa voz suave e embaladora, como a dum confessor que aconselha, dizer-te o quanto a ânsia de atingir fica aquém do que atingimos.

Quero rezar contigo, a minha voz com a tua atenção, a litania da desesperança.

Não há obra de artista que não pudesse ter sido mais perfeita. Lido verso por verso, o maior poema poucos versos teria que não pudessem ser melhores, poucos episódios que não pudessem ser mais intensos, e nunca o seu conjunto é tão perfeito que o não pudesse ser muitíssimo mais.

Ai do artista que repara para isto! que um dia pensa nisto! Nunca mais o seu trabalho é alegria, nem o seu sono sossego. E moço sem mocidade e envelhece descontente.

E para que exprimir? O pouco que se diz melhor fora ficar não dito.

Se eu me pudesse compenetrar realmente de quanto a renúncia é bela, que dolorosamente feliz para sempre que eu seria!

Porque Tu não amas o que eu digo com os ouvidos com que eu me ouço dizê-lo. Eu próprio se me ouço falar alto, os ouvidos com que me ouço falar alto não me escutam do mesmo modo que o ouvido íntimo com que me ouço pensar palavras. Se eu me erro, ouvindo-me, e tenho que perguntar tantas vezes, a mim próprio, o que quis dizer, os outros quanto me não entenderão!

De quão complexas ininteligências não é feita a compreensão dos outros de nós.

A delícia de se ver compreendido, não a pode ter quem se quer não compreendido, porque só aos complexos e incompreendidos isso acontece; e os outros, os simples, aqueles que os outros podem compreender — esses nunca têm o desejo de serem compreendidos.


Bernardo Soares

Sentir é Criar

Sentir é criar.

Inventar é (...)

A poesia é o estado rítmico do pensamento.

A arte de existir é ser completo.

Transbordar é manifestar-se.

A essência do uso é o abuso.

Não ser é um ser a mais.


Bernardo Soares

Levo para o imenso Abismo


Leve eu ao menos, para o imenso possível do abismo de tudo, a glória da minha desilusão como se fosse a de um grande sonho, o esplendor de não crer como um pendão de derrota — pendão contudo nas mãos débeis, mas pendão arrastado entre a lama e o sangue dos fracos... mas erguido ao alto, ao sumirmo-nos nas areias movediças, ninguém sabe se como protesto, se como desafio, se como gesto de desespero... Ninguém sabe, porque ninguém sabe nada, e as areias engolfam os que têm pendões como os que não têm...

E as areias cobrem tudo, a minha vida, a minha prosa, a minha eternidade.

Levo comigo a consciência da derrota como um pendão de vitória.


Bernardo Soares

Silêncio nas Palavras


O Problema das palavras é que elas só adquirem significância quando proferidas pela nossa própria voz.

Por isso o silêncio é o eco do que pensamos,
Por isso o escrito é subjectivo,
Por isso as frases são a alma da nossa essência
Por isso a palavra falada é a arma da ousadia

domingo, 13 de novembro de 2011

Eclipse


Se perdermos a lua na nossa noite, desenharemos uma nova que extravase as pinturas de Van Gogh,
Se os nossos olhos se fecharem por um segundo recordaremos sempre o momento em que estes espelharam o que sempre fomos,
Se o mundo parar um instante de girar, um suspiro de cansaço se atravessar na nossa frente, avançaremos hirtos de solidão,
Se nunca formos o que somos seremos sempre o que desejamos ser,
Se perdermos todos os se,

Vira-te, esta noite é nossa, este infinito é pouco, as nossas mãos são mais que o mundo, o errado está certo, a noite brilha, não sei o que fazemos, mas a noite é nossa,
O que começar, é nosso.

Agora, acorda, eclipse...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

GREVE!!!

A democracia no seu melhor: quem anda de transportes que vá à chuva...

Um dia...


Um dia o mundo não chegará para as nossas mãos.

Sabes...


Sabes que o ontem foi o eu que sempre serei. Sabes que o tempo muda na manhã para o tempo igual ao de sempre. Sabes que depois do Inverno vem a Primavera?

Sabes que o mundo é redondo e a vida é eterna? Sabes que a beleza dos teus olhos se espelham nos meus que sempre te olharam?

Sabes que o vento que sopra nos nossos cabelos são as nossas vozes sem o medo de serem nossas?
Sabes que o silêncio é o eco das nossas vozes.

Sabes que volto a rir por qualquer coisa senão só. Sabes que o perfume não se esquece e a memória não se apaga?

Sabes que o nós é eterno. Sabes que a mentira nunca foi mais senão uma verdade não dita.

Sabes...? Quem sabe um dia

sábado, 1 de outubro de 2011

E Depois do Adeus... José Niza

José Niza faleceu no passado dia 23 de Setembro e deixa um vasto legado cultural que extravasa as fracas fronteiras Portuguesas.
Ex-deputado, Médico, compositor e poeta, é o autor da letra da senha da revolução dos cravos, E Depois do Adeus. Entre outras obras foi compositor das músicas Flor de Verde Pinho (poema de Manuel Alegre), Calçada de Carriche, Lágrima de Preta, Fala do Homem Nascido (poemas de António Gedeão), Festa da Vida (poema de José Niza).

Que língua estrangeira é esta
que me roça a flor do ouvido,
um vozear sem sentido
que nenhum sentido empresta?
Sussurro de vago tom,
reminiscência de esfinge,
voz que se julga, ou se finge
sentindo, e é apenas som.

Contracenamos por gestos,
por sorrisos, por olhares,
rodeios protocolares,
cumprimentos indigestos,
firmes aperto de mão,
passeios de braço dado,
mas por som articulado,
por palavras, isso não.
Antes morrer atolado
na mais negra solidão.
Desencontro, José Niza

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Manual de Pintura e Caligrafia


"Verifico que mais fácil me foi ir dizendo quem era do que afirmar hoje quem sou"
"O retrato está tão longe do fim quanto eu quiser, ou tão perto quanto eu decidir"
in Manual de Pintura e Caligrafia, José Saramago


In Nomine Dei


«"Entre o homem, com a sua razão, e os animais, com o seu instinto, quem, afinal, estará mais bem dotado para o governo da vida?" Não faz sentido? "Se os cães tivessem inventado um Deus, brigariam por diferenças de opinião quanto ao nome a dar-lhe, Perdigueiro fosse, ou Lobo-d'Alsácia? E no caso de estarem de acordo quanto ao apelativo, andariam, gerações após gerações, a morder-se mutuamente por causa da forma das orelhas ou do tufado do seu canino Deus? "»

José Saramago

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Pesar: Maria José Nogueira Pinto


Faleceu hoje a deputada do Psd e jurista de profissão, Dr.ª Maria José Nogueira Pinto, vítima de cancro no pâncreas.
Expresso o meu pesar, destacando a simpatia e a prontidão que sempre demonstrou em contactos vários, sendo um exemplo das virtudes que um deputado deve possuir.
Em duas ocasiões contactei com a Sr. deputada que sempre apoio os trabalhos dos jovens na área política.
Era deputada desde 2009 pelo PSD tendo sido militante do CDS-PP, candidata à CM Lisboa, foi subsecretária de Estado da Cultura e uma importante jurista e investigadora.

A toda a família e amigos próximos os pêsames deste blog.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Always Better If you wait for the sun raise (The Gift)

Tempestade


Criou-se uma tempestade nos teus cabelos, iluminando a tua face rosada com lapsos recortes de passado.
No final lembramo-nos do que não tivémos e podíamos ter tudo.
A noite veio e a alma é vil.

Não voltamos ao Pais que criamos mas ele estará sempre no resíduo fantástico da memória, ficando resguardado pelo por de sol que vagueia na terra inteira.
Ficamos com um lugar cheio de memória e um vácuo na mesa onde se senta o mundo, um eco vazio mórbido, esperançoso, ou simplesmente nada.

Mar...
Se as ondas fossem voz, se a maresia saudade, se o sal esperança
Mar...
Onde sempre teremos o que nunca ousámos pedir

É tarde e ainda tão pouco tempo passou.

(retirado de...)

One day you'll dance this song with me
One day you'll ask me how I did
Always remember...
One day you´ll walk without my help
One day you'll ask about yourself

One day you'll dance this song with me
It's a perfect day I long to see
One day you'll ask me how I did

It's because your life has just healed me...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Vertigem Sensacionista


Estamos sempre perante um abismo, ou o nosso ou de outros e nem mesmo nesse terramoto espiritual se consegue encontrar algo que nos tire da abulia ataráxica em que nos metemos.

Estais seco por dentro...

Quero sentir algo, tudo, incomformado com o prazer de sentir, quero saber o que é verdadeiramente sentir, algo mais que isto, algo mais que tudo, mas algo mais...

Ficar alheio ao mundo e alheio a mim, ficar olhando os teus olhos fitando os meus, ficar sem nunca permanecer, procurando a incessante e eterna novidade do mundo, onde quer que ela esteja.

Será tão dificil sentir? Será tão dificil ir?
A questão é que nunca se vai...
A questão é que sempre nos ocultamos no lugar onde ninguém nos espera.

Sinto nada.
Sinto Tudo.
O que falta é sentir o que resta sentir

"Quem sou eu para mim? Só uma sensação minha." Bernardo Soares

Stand By Me



When the night has come
And the land is dark
And the moon is the only light we'll see
No I won't be afraid, No I won't be afraid
Just as long as you stand, stand by me

Stand by me

If the sky that we look upon
Should tumble and fall
Or the mountains should crumble to the sea
I won't cry, I won't cry
No I won't shed a tear
Just as long as you stand, stand by me


Whenever you're in trouble, won't you stand by me
Oh stand by me,
oh won't you stand now?
stand by me


will you?

Simone de Oliveira

A pedido de muitas famílias:




No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
existe tudo mais que ainda me escapa
e um verso em branco a espera do futuro

segunda-feira, 30 de maio de 2011

E O globo de ouro de Prémio de Mérito e Excelência vai para...Simone de Oliveira



Nasceu a 11 de Fevereiro de 1938 e com mais de 50 anos de carreira, Simone de Oliveira é a maior artista portuguesa da actualidade, a voz incontornável da música ligeira, deu a voz aos poetas quando estes não a tinham, deu a voz a Portugal quando este não podia falar.

Simone de Oliveira participou 2 vezes na Eurovisão com os temas Desfolhada (de Ary dos Santos) e Sol de Inverno. Aparte disso participou muitas mais vezes no Festival da Canção com temas como Apenas o Meu Povo, Degrau em Degrau...

Actriz de voz sonante foi uma das figuras do Parque Mayer, tendo pariticipado em séries televisivas e em peças de teatro variadas. Encabeçando as famosas peças de Lá Féria: Maldita Cocaína e Passa POr Mim No Rossio.

Porque falou mais alto que a voz, fica uma singela homenagem...

"Na voz de Simone as palavras reencontram a vibração e o volume, o contorno a sombra, o desgarrar ou a frescura, que sempre sonha dar-lhes quem ao papel as arremessa."

David Mourão-Ferreira

domingo, 29 de maio de 2011

Respira


Quando duvidares de ti
Quando suspeitares que não consegues
Quando pensas que nem acredita em ti
Quando achas que não te vais superar
Quando tens a certeza que está longe demais para estar perto
Quando o pensamento te inibe a acção
Quando o tédio te desprende da vida
Quando vês que não consegues
Quando achas que tudo é impossível
Quando o mundo se virar contra ti

Respira Fundo e Salta Porque somos parte da Natureza
E a ela nunca niguém a venceu

Porque Somos Excelentes Naquilo Que Fazemos

Respira fundo...
...e SALTA!

domingo, 22 de maio de 2011

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Viajar


Percorremos caminhos sem os ver realmente, observando pelo gosto do tacto as centrifugações hirtas que desconfiguram os seres parafraseados que são os viajantes.

Viajar é morrer neste sítio e esperar que se possa nascer num prado verde deslumbrando uma ténue linha de horizonte banhada pelo azul tépido que outrora foi nosso, nada é meu.

Nascer pela força parideira de um suspiro, vagando as ervas de espaço e controcendo a existência do vacuo da morte, viver, respirar, sentir cada grão de terra veranear-se do nosso corpo e sair da terra. Ir ao sol, ir ao sonho, ir a Deus, sem sair do momentâneo bafo de 100 anos de existência.

Acordarei num prado verde, acompanhado do eu que não encontro, sonhando um dia voltar rumo ao lugar onde não se pertence.

Viajar é morrer para nascer. Ousemos.

33 Degraus


Falta qualquer coisa, quando a meio da viagem, onde o corpo se afugenta de si próprio, impedindo de afastar os barcos que se atracaram ás vontades, vemos que quanto menos se vê mais se sente.

Que algo cegue as nossas almas por breves instantes.

A meio da viagem, onde se arrastam os barcos a meus pés, vejam que faltam 3 degraus e uma escuridão.

Só se aguarda que com a descida ao inferno se possa ascender ao céu...

Que se sinta o que já não se sente mais

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Um Pouco de Todos Nós (Eugénio de Andrade)

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.

Portugal Está a Atravessar a Pior Crise (1981)


Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: - mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não - pelo menos o Estado não tem: - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela Política. De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura.
Eça de Queirós

terça-feira, 29 de março de 2011

Adeus Sócrates....Ou Até Já?!?


Sócrates é meu amigo, mas sou mais amigo da verdade. Aristóteles



Arriscamo-nos todos a dizer: Volta pá, estás perdoado...

Frases



As coisas mais belas são ditadas pela loucura e escritas pela razão. André Gide

A objeção, o desvio, a desconfiança alegre, a vontade de troçar são sinais de saúde: tudo o que é absoluto pertence à patologia.

Torna-te aquilo que és.

Os homens graves e melancólicos ficam mais leves graças ao que torna os outros pesados, o ódio e o amor, e assim surgem de vez em quando à sua superfície. Friedrich Nietzsche


A Vénia do Rei


Os meus pés assentavam na mera existência de tábuas de ferros forjadas a suor.

Senti a apoteose da minha existência. O mundo, sob a forma de vento incisivo, a arrastar-se sombriamente com a ondulação do meu cabelo. A subida lenta, sensual como cem mãos de uma mulher, pelo meu corpo, até ao pico da minha existência. Aos pés o prazer de sentir o chão que pisamos, aos pés o dever de marcar a nossa existência, aos pés o peso de suportar a existência inteira; mas não aqui, mas não agora. Os meus pés não suportavam a minha existência; a minha existência, furtiva, assegurava os meus pés. Era o êxtase na forma de trémulos receios. Cansei de viver no pasmo.

Como olha Ele o mundo de frente, mesmo sabendo que ninguém o olha nos olhos, mesmo sabendo que estamos fartos de Seus pés.

Guardarei aquela imagem para toda a existência. Ele olha de alto, não de frente; tem medo que se saiba que Somos da mesma altura; têm receio que possa causar protuberâncias existenciais Eu só quero saber quem sou.

Meus pés estão mais altos que os Dele, mas minha cabeça não se ergue além do calcanhar.

Inverti a minha vida num ímpeto entusiástico a que chamamos fartos. Cabeça trocou de lugar com os pés e subia descendentemente o meu caminho até à transparente poluída água. Aí senti o vento mas não solidão. Sei que tu estás comigo, abraçada a toda a minha existência. Sei que tu não me abandonarás perante as forças adversas do destino, pelas mãos da gravidade. Cansei de viver no pasmo; Morrerei na excitação da existência.

Estou arrependido de não ter adiado, ou a morte ou a vida. Vejo o rio a narizes de distância. Vejo o rio a cabelos de distância. Senti o rio chapinhar como vinte facas cilíndricas percorrendo as margens ténues do meu corpo.

Silêncio. Silêncio. Silêncio e nada mais que silêncio.

Toda a minha existência rompeu pelas ténues linhas que delimitam a água e vi-te de frente.

Vi, senti o teu corpo mole mas rígido, ténue mas limitado pelas forças existenciais de todos nós. Magnânimo em todo o seu esplendor. E olhou-me nos olhos. Sem altivez, sem nada. Olhou como se me visse a alma fragmentada em largos passos a que se chamam anos. Miramos os nossos olhos simultaneamente. Os meus castanhos e os dela, negros de tédio. Nunca mais nos vimos e para sempre nos olhámos. Adeus...