Depois do silêncio, o vazio, o inócuo profânico sentimento de voltarmos ao início, onde tudo começou, que tudo?, não faço a mínima ideias racional de que nome dar a isto, onde se encaixará no campo dos conceitos. Que sentimento inútil cabe ali, que palavra oca encaixa melhor, se adapta aos contornos obtusos disto... Porque raio existem palavras?, elas são aquilo que nós queremos que elas sejam. Se eu quiser, no alto cume da ignorância dos loucos, apelidar madrugada como o silêncio espelhado na ausência, a solidão inerente à ausência dos outros, estarei errado? Sou o meu dicionário senhores... Não me baseio em obras de outros, a minha bibliografia é o mundo inteiro e dele as sensações subjectivas apreendidas por mim, apenas isso, não é tanto?
O que faz este silêncio? Sede. Sede. Sede. Demasiada sede para a água que existe no mundo, um extremar de sensações plácidas que não se revêm na realidade dos homens, um querer altivo demasiado grande para sobreviver aos dias, um olhar demasiado perdido para te ver, estar morto ao querer viver tudo um pouco, não podemos, não devemos ter demasiada sede ou arriscamos perder-nos nos desertos da vida em busca de oásis que nem existem em sonhos.
Nada aqui faz barulho agora, não reside a mínima sensação de despertar, nem o som de um piano, nem um cheiro leve, nem mesmo o bater das ondas nas rochas altas da manhã me faz prender aqui. só no silêncio longínquo da madrugada poderei deixar a sede da humanidade. Aqui faz-se silêncio e eu tenho demasiado desejo da cidade para aqui ficar.
Irei perder-me até perder em mim a sede que não passa, encontrar um fogo calmo, sustentado, que me embrace na madrugada e me arranque dela aos pedaços corpóreos das sensações sonhadas.
Depois do silêncio a madrugada, talvez um dia me torne manhã!
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