Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

sábado, 16 de novembro de 2013

Noite III

Há uma luz que se apaga na noite, as janelas revestem se de pequenos sois amarelos e brancos, intercalados por silêncios, ausências, como em tudo, uma mescla de cheio e vazio num absurdo convívio ensurcedor. Pessoas a pé circundam os carros já parados nos seus repousos, os vazios deixam de existir mas nem por isso se enchem, apenas passam a noite com a companhia inútil de quem parte pela manhã. Um deles imunda ainda calor, o rasto de quem foi usado e já não mais, apenas se queda ali no silencio com os outros, ninguém fala nesta rua, ninguém se conhece nesta estrada, somos todos companheiros da nossa viagem.
Pelo fim da rua, envolto em fumo, reside um resto de homem, um cansaço com pernas que se arrastam no alcatrão com a forca resistente das magoas, o arrastar de ferro pelas teias ferrugentas do tempo, lascando com faíscas negras as faixas obscuras da humanidade. Acende se um isqueiro. Não há mais caos neste edifício que anda.
Outro cigarro se enche e outra madrugada se acende.  Nenhum deles percebe o que mais ninguém reconhece, a solidão dos homens, o silencio dos fracos.

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