Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Vamos e Ver

Vamos fugir para ver o mundo, longe, encharcarmos os nossos olhos com as planícies, desafiamo-los com as montanhas, crescer no abraço que fazemos às pequenas flores que timidamente crescem entre os rochedos, beijar com o corpo imenso os rios e as cascatas que nos lavam a alma. Gritar o barulho da água a chegar à mãe natureza. E o silêncio é quieto, é dificil de respirar com tanta liberdade no ar, com tantos sonhos no corpo e planicies na mente.

Vamos embora e ver o mundo, como crianças felizes que experimentam o primeiro gelado, sentem a primeira neve nos rostos rosados, a primeira onde, a descoberta da primeira vez do mundo, a esperança de termos o nosso próprio, individual. intransmissivel big bang e fazermos dele o nosso mundo, e crescer, o nosso mundo, e acreditar, no nosso mundo.

Vou embora e criar o meu pequeno mundo, só meu, tão nosso.

Até lá...


segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Acordar

...de dia...

Relaxa, suspira, estica-te, é a hora. O vento abranda, as luzes da rua acordam e devagar os mortos acordam com a música dos carros, a música sobe, o vento grita e sobe, tu acordas e vais, vais até ao fim do mundo, cantando, dizendo que é a vida, a tua, a única e complexa, redonda e mestica, sem caminho nem padrão, sem pontos ou vírgulas, na rua vês o sinais e as portas da frente vazias, os hotéis cheios de empresários perdidos, o comboio cheio de ar na mente de quem o mente viajar, onde irão, onde vais, segue não o sabes, acordar é isto, por nas pernas a energia necessária para ir sem destino, para deixar parado a inércia dos que sem ti correm melhor.


Cidade, nevoeiro

A cidade enche-se de nevoeiro, ocultando em pequenos abraços a piedade das luzes que, devagar, se deixam embalar nele, plácidas, secas. E a noite cai na cidade, cedo, devagar. Uma a uma, as janelas despedem-se, acenando as horas até ao dia as vir beijar, devagar. O menino deita-se nos seus lençóis frios, baixinho, sozinho, dorme.

Recebe o medo, devagar, deixa-o vir contigo se deitar, cantar a última deixa do dia, baixinho, sussurrando, trazendo um pouco do nevoeiro com ele, um pequeno gosto da cidade. Não desvendes os dias, deixa as horas o encantarem, levarem para lá do horizonte onde o homem não vê, onde o tempo não sente, não deixes de sonhar.

Fecha os olhos e aperta as mãos ao peito num ligeiro sufoco, não tenhas medo, um dia na madrugada viras no reflexo do sol o rosto dourado de quem o olha, as mãos hirtas de quem o pega e a voz alta de quem traz o silêncio consigo, de quem dormiu com a companhia que não tem, com a gente que não traz.

Se um dia, na cidade, vires o nevoeiro, sorri, é apenas o medo a sonhar, a brincar aos países, deixa o embalar a cidade enquanto te embalas no medo. Não deixes de sonhar, a cidade é o mundo da luz que vem todas as madrugadas.


segunda-feira, 2 de julho de 2018

Ergue-te

Quebras como os silêncios, vivendo aquele instante triste num sufoco enormemente terreno, num labirinto sem saída, numa montanha sem fim. Montanhas... Erguem-se como os dias, hirtos perante o vento, fortes como os rios que abraçam nos seus veios, pujantes como as raízes das árvores que suportam, mil e uma vezes sem fim, mil e uma vezes sem princípio.

E tu...

O silêncio que trazes não é calado, é um suspiro dificil de suster, um bafo dificil de dar, um abraço que se teima em esconder... Montanhas que subsistem no tempo, sem barulho, sem gesto, sem medo de serem cada vez mais altas, sem orgulhos imensos ou terras completamente desbravadas, ficam, lutam, subsistem.

E tu...

Tudo o que precisamos é a esperança de um amanhã, de um dia mais claro, de um erguer mais fundo, mais forte, mais teu. Montanhas...

Tu ergues-te como o dia, como as montanhas, mil e uma vezes sem parar, sem suspirar, sem parar, sem medo, como todos os caminhos do mundo, como todos os horizontes sem fim, mil e uma vezes como nas histórias das crianças, nas fábulas elaboradas que tão sabes, com todos os sabores que conheces e todos os mais que ainda vais descobrir.

E tu... ergues-te como as montanhas que nunca se vergam.


quarta-feira, 7 de março de 2018

Olhar

Quero te ver como só eu te vejo, nas palavras certas dos teus olhos, na solidão inerente ao teu sorriso, o outono dos teus cabelos, no sempre do momento ver pelo castanho dos teus olhos as cores todas do mundo. No toque, ter o universo inteiro, na sua imensidão, ficar quando nada nos prende, no sempre aqui que é só nosso.

As tuas mãos abertas e prontas, toque suave sem dor, palavra digna, amor.

A força nova que trazes quando perdi a força de saber chorar.

Quero permanecer, só porque existes. Aqui. Sempre.