Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O Nosso Desassossego




Todo o desassossego é nosso, e é nosso todo o desassossego. Somos dois desassossegados por um bando de sossegados futéis, calados e secos. Quero te desassossegar com as palavras negras que expresso pela negre boca que algo me deu.

Vi o filme tal como tu. E mexeu comigo como acho que mexeu contigo. Sentir a decadência da alma humana, o cair poético da personagem negra que todos somos. O ver que não passamos de eternos pecadores anónimos e que a vida não é mais que um momento no espaço, sem o espaço do momento.

Sentes a transposição poética daqueles ser a apunhalar a realidade que conotas tua.

Adorei...
Tal como adoro as realizações mudanas.
Tal como adoro as virtudes transponíveis.
Tal como adoro as intuitividades nobre e reclusas.

Já viste que era Ser o texto que escrevmos, ser a nossa mão transpondo para o papel rabisco de um mar de aquém. Transpor toda a existência compilada, ajuntada, aninhada na vil palavra a que um dia te darei. Barcos, ser barcos, As letras saõ barcos entre o pouco que temos dentro de nós e o muito que criamos. São barcos à vela bulindo ao vento do pensamento humano e da tristeza mágoa. Tédio. São bargos à vela e com tédio. São barco à vela, com tédio, com as personagens contidas em suas bancos, na sua roda que não saindo do memso lugar nos leva a todos os sítio. Ir e não sair. Ser e não ter.
Que vil desassossego é este. Se vivemos para desassossegar sejemos desassossegados primeiro.

Ser e não ter é a pior das criações.
~





" Se a nossa vida fosse um eterno estar-à-janela, se assim ficássemos, como
um fumo parado, sempre, tendo sempre o mesmo momento de crespúsculo dolorindo a
curva dos montes. Se assim ficássemos para além de sempre!

Se ao menos,
aquém da impossibilidade, assim pudéssemos quedar-nos, sem que cometêssemos uma
acção, sem que os nossos lábios pálidos pecassem mais palavras!

Olha
como vai escurecendo!... O sossego positivo de tudo enche-me de raiva, de
qualquer coisa que é o travo no sabor da aspiração. Dói-me a alma... Um traço
lento de fumo ergue-se e dispersa-se lá longe... Um tédio inquieto faz-me não
pensar mais em ti...

Tão supérfluo tudo! Nós e o mundo e o mistério de
ambos."


'O Beijo não toca a beleza da boca'



de Bernardo Soares

Sem comentários:

Enviar um comentário