Balelas (ou não) da Rua

Nem tanto ao Mar, nem tanto à Terra

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Vidro Fosco - Existência

Vemos a vida por um vidro fosco e abafado pelo fumo da nossa existência. Por isso quando nos olhamos aos espelho não sabemos quem somos nem aquilo que criámos. Não reconhecemos aquilo que vemos com aquilo que sentimos que somos. Somos fragmentos fragmentados da porcelana que pintamos todos os dias e mostramos aos outros até que o mar ou a manhã leve a tinta para outras passagens.
E temos medo, muito medo e medo só.

De ser quem não queremos e estar onde não desejamos sentindo aquilo que não é para sentir. O ser humano é isto, ser, estar e sentir. Emoção Razão Interrogação.

Claro que a vida dos outros é vista com óculos alupados, muitas vezes igualmente abafados pela nossa ânsia de queres saber que bicho é aquele. Aquele bicho somos nós e são as cidades. É o mundo concentrado em células de pele pintada.

Que mundo é este que torna o homem finito?!
O maior dos Deuses é o Homem que se renova e reformula. Que cria e transforma. Que destrói e mata. Que nasce e morre numa espiral elíptica de interiorizações. Somos o infinito concentrado num pequeno ponto, disfarçado de zero.

Retorno. Retorno a ideia de não se saber quem sou e se sou alguém (para mim e para os outros) e de ninguém saber quem é. O espelho é baço, por mais polido que seja/esteja.
O vidro parte-se. O espelho quebra-se. E a vida é a cola com que se disfarça a fragmentação existencial.

Ninguém é o que pensa ser. Ninguém é.
Espera-se a individualidade da multidão na totipotência da individualidade.
Respiremos o ar poluído da cidade para um dia podermos respirar os ares do Alentejo...

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